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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O fim das bibliotecas?


Importante é o conhecimento, que pode estar em papiro, pergaminho, papel ou na tela
         
Leandro Karnal, O Estado de S. Paulo
Imagem: Internet

Sempre senti o fascínio poderoso por bibliotecas. Tínhamos uma em casa, uma na escola e eu frequentava muito a Biblioteca Pública Municipal Olavo Bilac de São Leopoldo. Meu paraíso era próximo ao de Jorge Luis Borges: livros enfileirados.

Na faculdade, eu não tinha dúvida alguma: ter muitos livros era indispensável ao bom viver. Causa ainda certa espécie aos que hoje visitam minha casa que meu quarto seja decorado por uma imensa e belíssima foto de Yuri Seródio focando a Biblioteca Riccardiana de Florença. Deito e acordo com a representação de uma biblioteca. Silêncio, calma, livros, conhecimento: quase tudo é virtuoso no espaço de livros enfileirados.

Amo bibliotecas. O amor foi sofrendo golpes. Os primeiros são as mudanças. Cada vez que troco de casa tenho de avaliar quais os livros que realmente são importantes. Como me mudei há pouco, mais uma vez tive de avaliar coisas. Um exemplo: eu tinha uma extensa coleção de dicionários de português, praticamente todos os grandes léxicos da nossa língua. Avaliei mentalmente: qual foi a última vez que abri o volume físico do dicionário? Não consegui recordar. Deixei de necessitar? Pelo contrário, não consigo escrever um parágrafo sem buscar auxílio deles. Porém, como quase tudo, percebi que só uso versões digitais, rápidas de serem acessadas. Aqueles livros imensos estavam ali, belos, imponentes, com histórias, parados e sem uso além do valor simbólico na estante. Doei todos os que existiam em forma não virtual. Mantive apenas os mais antigos, como o Dicionário Analógico do padre Carlos Spitzer.

Muitos livros com reproduções de imagens artísticas tiveram o mesmo destino. Pensei em como consigo acessar em altíssima resolução afrescos da Capela Sistina, sem que eu precise guardar aqueles volumes gigantescos com fotografias dela ainda antes da restauração. Fiz uma sessão de “processos de Moscou” com meus livros. Ao contrário de um tirano como Stalin, ao menos dei a cada um o direito de se defender. Muitos reconheceram que sua culpa não estava na alma, mas no corpo. Por qual motivo manter volumes de peso enorme, acumuladores de pó, desafiadores de todas as estantes possíveis se algo melhor e mais rápido era possível na tela? Se alguém alegar que só consegue ler em papel, deve ter cuidado, aproxima-se o dia em que não apenas os livros físicos serão descartados, mas os leitores deles, ambos, aparentemente, obsoletos.

Ato contínuo: tentei doar a colégios públicos próximos ao meu antigo endereço. Nenhum aceitou. Levei os mais acadêmicos para minha universidade e a acolhida não foi entusiasmada. Consegui doar muitos para presídios, onde a falta de acesso fácil à internet ainda torna o livro físico um valor.

Talvez eu esteja vendo o fim da tradição de Alexandria e outros centros bibliotecários. Será que bibliotecas serão como as canetas-tinteiro que coleciono? Peças antigas, bonitas, evocativas, porém há muito suplantadas por similares mais práticas e fáceis?

Em janeiro estive em uma das maiores bibliotecas do mundo: a Britânica de Londres. Admirei uma exposição com a Magna Carta e outros documentos extraordinários. Ao subir aos andares mais elevados, encontrei, claro, quilômetros de estantes com livros de bela encadernação. O óbvio ocorria a minha frente: a maioria absoluta dos seus muitos frequentadores estava lendo em... tablets. A biblioteca era um espaço de silêncio e de wi-fi potente. Vi que as obras antigas e mais delicadas eram todas digitalizadas e a biblioteca oferecia uma enormidade de títulos para serem baixados.

Toda geração cria nostalgia com sua tecnologia, mesmo a superada. Eu, baby boomer, olho com simpatia uma fita K7. Sei que meus sistemas de baixar músicas garantem mais clareza de som e muito mais praticidade. O que me faz sorrir ao reencontrar a peça é, por certo, uma nostalgia da infância ou uma lembrança de que guardo segredos históricos do passado desconhecido pelos jovens. Que adolescente saberia hoje dar aquela “puxadinha” no braço do toca-discos para iniciar o movimento rotatório do disco de vinil? Qual a utilidade desse conhecimento? Nenhuma...

O importante é o conhecimento, não o livro. Quero aprender e não valorizar um suporte específico, o livro in-quarto em papel feito a partir de celulose. Conhecimento pode estar em papiro, pergaminho, papel ou na tela. O saber é o substantivo, os adjetivos são secundários. A rigor, nada se perderia com o fim dos livros físicos, escaneados, digitalizados, guardados na nuvem e acessíveis a ainda mais leitores. Morrendo minha geração, provavelmente, livros podem ser vistos como um console de telejogo. Alguém ainda lembra ou sente falta?

A minha biblioteca privada vem diminuindo e só conservo obras raras, livros afetivos ou autografados por escritores conhecidos. Baixo mais livros do que compro novos em papel. Suponho que, em alguns anos, prédios de bibliotecas serão como os templos egípcios no vale do Nilo: imensos, solenes, narradores pétreos de uma glória antiga e, sem fiéis ou sem deuses, apenas com turistas e selfies. Será que todos terão consciência de que aqueles templos foram construídos também porque havia saberes em bibliotecas?

Minha rinite melhorou com a novidade, minha alma sempre será melancólica com o fim dos livros físicos. Será que um dia terei no quarto só a senha do wi-fi e os computadores para ver fotografias? Sempre é preciso cultivar a esperança.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Como a inteligência artificial está ajudando a decifrar os códigos do Arquivo Secreto do Vaticano


Um novo software pode fazer com que séculos de documentos escritos em latim sejam disponibilizados na internet

Zelda Caldwell | Ateteia

O Archivum Secretum Vaticanum ou Arquivo Secreto do Vaticano (ASV) parece algo tirado das teorias conspiratórias de ficção, bem ao estilo do escritor Dan Brown.

Mas, na realidade, os ASV são simplesmente um conjunto de arquivos privados (melhor tradução para a palavra “secretum”) do Papa. Porém, desde que o Papa Leão XIII abriu o arquivo a alguns estudiosos, em 1881, ele deixou de ser particular.

Teoricamente, desde o século VIII, todos os textos, documentos históricos, atas promulgadas pelo Vaticano, livros de contas e correspondências dos papas estão disponíveis aos pesquisadores qualificados para isso.

O único problema é que o enorme volume de arquivos os torna virtualmente inacessíveis.

De acordo com um artigo de Sam Kean publicado no The Atlantic, dos 85 quilômetros de fila de estantes do Arquivo Secreto do Vaticano, somente poucos milímetros de páginas foram escaneados, transcritos e preparados para ficarem acessíveis aos serviços de busca na internet.

Agora, o In Codice Ratio, um programa que utiliza inteligência artificial e reconhecimento ótico de caracteres (OCR) para transcrever automaticamente conteúdos, está sendo utilizado para digitalizar os arquivos do Vaticano.

Porém, segundo Kean, o OCR faz maravilhas com documentos escritos à máquina, mas não pode processar o texto manuscrito. As letras tendem a se misturar e nem sempre o que se encontram são “exemplos claros e nítidos” das letras que supostamente representam.

É aí que entra em jogo a inteligência artificial. Os pesquisadores recrutaram estudantes de um instituto italiano sem nenhum conhecimento em latim medieval. Com base em exemplos de letras que o software de OCR já havia identificado, os estudantes deveriam comprovar se elas correspondiam ou não aos símbolos corretos. Tudo o que eles tinham que fazer era comprovar os padrões visuais. O software anotou os apontamentos que os estudantes fizeram e corrigiu os erros.

Quando o projeto teve início, “a ideia de envolver os estudantes era desacreditada”, contou Paolo Merialdo, cientista da Codice Ratio. “Mas, agora, a máquina está aprendendo com os esforços dos estudantes. É incrível como uma pequena e simples contribuição de muitas pessoas pode ajudar a solucionar um problema tão complexo”, comemora Paolo.

Transcrever ao computador os antigos escritos também não está sendo tarefa simples. Um terço das palavras continha erros, o que atrapalhava a leitura. Mas o trabalho já foi considerado um grande avanço.

“As transcrições imperfeitas podem oferecer informações suficientes sobre o contexto do manuscrito em questão”, contou Merialdo a Kean.

Além disso, os cientistas que estão por trás do projeto esperam que o software melhore com o tempo, já que, quanto mais se aprende com a inteligência artificial, melhores são os resultados obtidos.

Para ler o artigo completo do The Atlantic (em inglês), clique aqui.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Relatório da IFLA sobre os desafios ao direito à privacidade na era digital



Em resposta a um pedido de provas sobre o direito à privacidade na era digital das Nações Unidas sobre privacidade, a IFLA (Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias) respondeu enfatizando a importância da privacidade para a liberdade intelectual e o papel que as bibliotecas podem desempenhar na obtenção de deste objetivo. O relatório destaca o valioso papel que as bibliotecas podem desempenhar na promoção e proteção do direito à privacidade na era digital.




terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Bibliotecas são aliadas da internet nas universidades

Aluna universitária faz pesquisa em biblioteca Foto: Divulgação

Ramon de Angeli | Extra

Mesmo com a facilidade de encontrar qualquer informação à distância de um clique, a internet ainda não substituiu as bibliotecas em muitas universidades e instituições de ensino. As salas repletas de livros, conhecimento e silêncio são uma ótima aliada da web na hora de melhorar o rendimento acadêmico.

Segundo a coordenadora do Sistema de Bibliotecas da UniCarioca, Rachel Louredo, o fácil acesso ao conteúdo indicado nos cursos e a presença de profissionais para auxiliar na pesquisa estão entre as vantagens das bibliotecas:

— O perfil mudou, a geração conectada que frequenta bibliotecas requer mais agilidade na busca da informação. Além de oferecer informação, o espaço gera conhecimento e cultura para todos. O acervo é composto, em sua maioria, por livros das bibliografias das disciplinas dos cursos. Isso facilita o estudo, pois a matéria abordada em sala de aula será encontrada com facilidade nos livros disponíveis para empréstimo e consulta.

O aluno do segundo período de Letras da UniRio Roberto Albuquerque, de 26 anos, diz-se surpreso com a quantidade de estudantes que frequenta a biblioteca no campus:

— Fico feliz de ver tanta gente na biblioteca, é uma boa opção para estudar, tranquila e silenciosa. Parece que mesmo com a tecnologia, redes sociais e novidades que surgem a cada momento, os jovens seguem interessados na leitura e buscam ter acesso a ela em todas as plataformas disponíveis.

De acordo com Claudete Daflon, professora de literatura brasileira da Universidade Federal Fluminense (UFF), a biblioteca dá uma maior autonomia ao estudante:

— O usuário, ao se limitar a acatar os resultados apresentados (nos sites de busca), delega o processo de busca, seleção e ordenação das informações. A biblioteca, por sua vez, exige que o usuário assuma o processo de busca, o que implica refletir sobre como acessar determinada informação num universo amplo de possibilidades. Nesse sentido, diferentemente do buscador que determina o que se deve saber sobre um determinado assunto, a biblioteca permite maior autonomia.

Veja quatro dicas para fazer bom uso das bibliotecas

- Caminhar pelas estantes sem medo de abrir os livros, pois a informação pode estar onde você nem estava procurando.

- Usar sempre que possível o catálogo online para buscar informação e termos específicos.

- Não ficar restrito a uma determinada bibliografia, pois outros autores podem ter informações importantes sobre o tema.

- Perguntar e não sair com dúvida, pois o bibliotecário sempre terá um caminho para encontrar a informação desejada.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Quais os entraves na digitalização de acervos no Brasil

Em bibliotecas e museus, benefícios educacionais e de preservação da memória com versões on-line esbarram em questões jurídicas e financeiras

Camilo Rocha | Nexo 

Arquivo Nacional, situado no Rio de Janeiro, inaugurou ferramenta de busca para versão digital de seu acervo

Existem escritos raros de Guimarães Rosa que não podem aparecer na Brasiliana, a biblioteca digital da USP (Universidade de São Paulo), por questões legais de direitos autorais. Na Cinemateca Brasileira, o original do filme “A hora e a vez de Augusto Matraga” (1965), com Leonardo Villar, se deteriora porque os herdeiros do cineasta não conseguem chegar a um acordo a respeito de quanto cobrar para permitir a digitalização da obra. 

São apenas dois exemplos dos entraves enfrentados por instituições de memória brasileiras quando tentam digitalizar seus acervos. Os casos foram citados em uma reportagem de 2010 do jornal O Estado de S. Paulo e aparecem no livro “Memórias digitais”, lançado em 2018 pelo CTS (Centro de Tecnologia e Sociedade) da FGV-Rio (Faculdade Getúlio Vargas). 

O livro resultou de workshops realizados em 2014 pelo CTS com profissionais brasileiros e da América Latina da área (alguns dos quais contribuem com artigos). A coletânea de textos aborda aspectos como tecnologia, legislação, políticas institucionais e financiamento. 

“Suponha que seja um livro que esteja corroendo na biblioteca. O bibliotecário fica numa sinuca, pois não tem certeza jurídica para agir” Bruna Castanheira de Freitas Pesquisadora do CTS (FGV-Rio) e organizadora do livro "Memórias Digitais"

Em paralelo, foi realizada uma pesquisa para tentar quantificar o estado de digitalização dos acervos brasileiros. Embora os dados ainda estejam sendo analisados, a organizadora do livro e pesquisadora do CTS, Bruna Castanheira de Freitas, explicou que os museus são as instituições com a digitalização em estado mais incipiente. 

Já os acervos nacionais, locais como o Arquivo Histórico do Exército e o Arquivo Noronha Santos, ambos no Rio de Janeiro, são a categoria de instituição com o processo de digitalização mais adiantado. O próprio Arquivo Nacional inaugurou em setembro de 2017 uma nova ferramenta de busca para pesquisa em seu acervo.

Por que digitalizar 

Para Castanheira, a digitalização atende a dois objetivos principais: a preservação de obras, que em estado físico original ficam sujeitas à ação do tempo, e a democratização do acesso aos acervos, ao torná-los disponíveis na internet.

A pesquisadora lembra que muitos brasileiros moram longe de museus ou não têm condições financeiras de comprar um ingresso. Segundo o levantamento do CTS, a maior parte dos museus fica nas regiões Sul e Sudeste do país. 

“É obrigatório que museus, bibliotecas e arquivos se juntem a instituições educacionais para abraçar [a digitalização]”, disse Wayne Clough, em entrevista de 2013, quando era secretário do Instituto Smithsonian, nos Estados Unidos, entidade de pesquisa e museus administrada pelo governo americano.

Quais os obstáculos jurídicos 

No Brasil, lacunas na Lei dos Direitos Autorais, de 1998, deixam administradores de acervos em situação de insegurança jurídica quando o assunto é digitalização. De acordo com a lei atual, apenas criar uma versão digital de uma obra sem a devida permissão do proprietário é proibido. “Seria entendido como pirataria na lei atual”, explicou Castanheira ao Nexo. 

Em muitos casos, não é possível localizar o titular dos direitos de um livro ou foto antiga, gerando o que se chama de “obra órfã”. O livro cita dados de 2009 de que, apenas no Museu de História Nacional de Londres, 20% dos cerca de 1 milhão de livros e 25% dos cerca de 500 mil itens da coleção eram de propriedade desconhecida.

Para a pesquisadora, a lei deveria determinar procedimentos para os profissionais das instituições de memória nesses casos, “para provar que tentou encontrar o dono da obra, mas não conseguiu. Suponha que seja um livro que esteja corroendo na biblioteca. O bibliotecário fica numa sinuca, pois não tem certeza jurídica para agir”. 

A legislação deveria ser modificada para contemplar a digitalização “para fins de conservação”, abrindo neste caso uma exceção nos direitos autorais, na opinião de Castanheira. 

Para ela, não se vê no momento nenhuma iniciativa no legislativo federal de discussão destes temas. Ações do Ministério da Cultura de digitalização dos acervos culturais, como a plataforma Tainacan, que ajudaria na busca por obras, encontram-se paralisadas.

De acordo com o livro “Memórias digitais”, o custos de armazenamento de “matrizes” digitais de um filme chegam a ser 11 vezes maiores que os de manter originais em película

Dinheiro e tecnologia 

A mão de obra, o tempo e a tecnologia que a digitalização de um grande acervo exige torna o processo custoso. Mas a manutenção também pode sair cara, às vezes mais do que a preservação do original físico. De acordo com o livro “Memórias digitais”, o custos de armazenamento de “matrizes” digitais de um filme chegam a ser 11 vezes maiores que os de manter originais em película. 

Há também custos de atualização de plataforma e ferramentas de uso do público da internet, que podem ficar defasadas com o passar dos anos. Um exemplo evidente são sites pensados para a navegação em computador que não contemplaram o aumento ou navegação exclusiva por celular de muitos usuários brasileiros. Como resultado, sites mais antigos podem não funcionar na tela menor. 

O livro defende o desenvolvimento de plataformas de software livre (programas que podem ser copiados, alterados e distribuídos gratuitamente), fáceis de serem adaptadas por diversas instituições e que favorecem a integração entre acervos digitais, inclusive facilitando a busca por obras. Como exemplo bem-sucedido, a coletânea cita o software Corisco, desenvolvido para a Biblioteca Brasiliana, que depois foi adaptado para o Instituto Hercule Florence (IHF), que gerencia acervos de imagens do início da fotografia no Brasil.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Consultas online provocam mudanças nas bibliotecas, que agora são usadas como salas de estudo

Estudantes abandonam as estantes em favor do material de referência virtual
         
Michael Rubinkan, AP | O Estado de S. Paulo


Uma biblioteca sem livros? Não é bem assim, mas, como os estudantes abandonaram as estantes em favor do material de referência online, as bibliotecas universitárias estão querendo se livrar de milhões de volumes não lidos em uma limpeza de nível nacional, o que deixa profundamente perturbados alguns estudiosos amantes da palavra impressa.


Sala vazia. Falta espaço no campus universitário americano; a solução foi a de remover parte do rico acervo Foto: Michael Rubinkam/AP

As bibliotecas estão armazenando os livros, contratando revendedores ou simplesmente reciclando-os. Há um número cada vez maior de livros na nuvem, e as bibliotecas estão se unindo para garantir que cópias impressas sejam mantidas por alguém, em algum lugar. Ainda assim, isso nem sempre cai bem junto aos acadêmicos que praticamente vivem na biblioteca e argumentam que as grandes coleções, sempre disponíveis, são vitais para a pesquisa.

“Ninguém está realmente à vontade com isso”, disse Rick Lugg, diretor executivo da OCLC Sustainable Collection Services, que ajuda as bibliotecas a analisar suas coleções. “Mas, sem acesso a recursos infinitos para lidar com isso, trata-se de uma situação que precisa ser enfrentada”.

Na Universidade Indiana da Pensilvânia (IUP), as prateleiras da biblioteca transbordam com livros que recebem pouca atenção. Como uma empoeirada monografia sobre desenvolvimento econômico na Escócia vitoriana. Ou almanaques internacionais de televisão de 1978, 1985 e 1986. Um livro cujo título, Finanças Pessoais, parece relevante até que se veja a data de publicação: 1961.

Como quase metade da coleção da IUP ficou sem ser consultada durante 20 anos ou mais, então os administradores da universidade decidiram que deveria ser realizada uma grande limpeza. Usando o software do grupo de Lugg, eles apresentaram uma lista inicial de 170 mil livros que devem ser analisados para possível remoção.

Os professores que ganham a vida graças ao conteúdo das estantes manifestaram sua indignação diante do fato.

“Uma ideia incrivelmente mal concebida” e “uma facada no coração”, escreveu Charles Cashdollar, professor emérito de história, em carta ao reitor e ao pró-reitor. “Para os humanistas, jogar fora tais livros é tão devastador quanto seria para outras pessoas o bloqueio do laboratório ou do estúdio ou fechar as portas da clínica”.

Embora tal depuração sempre tenha ocorrido nas bibliotecas, os especialistas dizem que a situação está complicada. As finanças são um fator. Entre funcionários, despesas gerais e outros gastos, custa cerca de US$ 4 manter cada um dos livros na prateleira por um ano, de acordo com um estudo de 2009. Espaço é outro fator a se acrescentar. As bibliotecas simplesmente estão ficando sem espaço.

E, claro, a digitalização de livros e outros materiais impressos afetou dramaticamente a forma como os alunos pesquisam. A circulação vem diminuindo há anos.

As bibliotecas dizem que precisavam evoluir e fazer melhor uso de valiosos imóveis no campus. Estudantes ainda se reúnem na biblioteca. Mas eles a usam de maneiras diferentes. As estantes de livros estão dando lugar a salas de estudo em grupo e centros tutoriais, locais para trabalhos artesanais e cafeterias, já que as bibliotecas tentam se reinventar para a era digital.

“Somos uma espécie de sala de estar do campus”, disse a bibliotecária da Universidade Estadual do Oregon, Cheryl Middleton, presidente da Associação de Bibliotecas Universitárias e de Pesquisa. “Não somos apenas um depósito.”

É uma mudança radical. Até recentemente, o valor de uma biblioteca era medido pelo tamanho e alcance de seu acervo. Alguns acadêmicos ainda veem isso dessa maneira.

Na Universidade de Syracuse, centenas de professores e estudantes se opuseram a um plano para depositar livros num local a quatro horas de distância do campus universitário. A escola terminou construindo sua própria instalação de armazenamento para 1,2 milhões de livros, perto do campus.

Na IUP, uma universidade estadual a 96 quilômetros de Pittsburgh, a faculdade reagiu com inquietação depois que as autoridades escolares anunciaram um plano para descartar mais de um terço dos livros.

Cashdollar argumentou que a circulação é um indicador pobre do valor de um livro, uma vez que os livros são frequentemente consultados, mas isso não foi conferido. Reduzir substancialmente a coleção de livros impressos de uma biblioteca também ignora o papel do acaso na pesquisa, quando se procura um livro nas prateleiras, mas se tropeça em outro, que leva a uma nova visão ou abordagem, dizem Cashdollar e outros críticos.

“Nós vamos jogar fora quantos deles for possível para que a biblioteca continue funcionando, o que não é uma boa estratégia”, disse Alan Baumler, professor de história da IUP. “Eles dizem que querem mais áreas de estudo, mas acho difícil acreditar que não exista outro lugar para os alunos estudarem”.

O projeto da biblioteca refere-se mais à responsabilidade na administração dos recursos do estado do que a um esforço para liberar espaço, disse o diretor Timothy Moerland. Mas ele compreende a paixão de seus colegas.

“Existem alguns que jamais se sentirão à vontade com a ideia de que qualquer livro seja abandonado à sua própria sorte”, disse ele.

As bibliotecas dizem que o objetivo é tornar as suas coleções mais relevantes para os estudantes, ao mesmo tempo em que certifica que os materiais menos importantes não fiquem perdidos na história. Um grande repositório digital chamado HathiTrust tem encomendas de 50 bibliotecas para manter mais de 16 milhões de volumes impressos. Outros 6 milhões foram preservados pelo Eastern Academic Scholars 'Trust, consórcio de 60 bibliotecas do Maine à Flórida.

Um comitê de faculdades da IUP está revisando o que Moerland chama secamente de a “lista na mira” para garantir que obras importantes permaneçam nas prateleiras. O número final de livros a serem removidos ainda não foi determinado, mas a escala potencial está facilmente à disposição. Os bibliotecários afixaram grandes adesivos vermelhos na lombada dos volumes listados.

Alguns estudantes dizem que se preocupam com a falta de prazo se tiverem que esperar por um livro que a biblioteca já não possui. Outros, como a novata de 19 anos, Dierra Rowland, dizem que estão a favor.

“Se ninguém os está lendo”, ela disse, “qual é o sentido de mantê-los?” / Tradução de Claudia Bozzo

NÚMEROS

170 mil livros devem ser analisados para uma possível remoção da Universidade da Pensilvânia, dividindo a opinião dos professores e alunos, sendo que os últimos dizem que não se importam, pois não são lidos

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Biblioteca Nacional de Cuba digitaliza sua herança cultural-musical

A Biblioteca Nacional de Cuba José Martí , trabalha pela primeira vez na digitalização do seu patrimônio cultural-musical.


O principal objetivo do resgate de fundos audiovisuais é garantir a conservação, restauração e preservação dos materiais de som da sala de música Alberto Muguercia e Algerier León, de acordo com Juan Carlos Val Pino, especialista em serviços públicos dessa instituição:

"Começamos o trabalho com a mais significativa discografia cubana existente antes do triunfo da Revolução e com autores como Ernesto Lecuona, Eduardo Sánchez de Fuentes e Alejandro García Caturla", explicou.

Para a realização do projeto, Val Pino, seu principal representante, visitou em outubro de 2016 as bibliotecas Richelieu-Louvois e François-Mitterrand, ambas na França, onde um processo semelhante foi realizado há alguns anos. De acordo com o especialista, para a digitalização em curso na instituição cubana, 17 equipes foram doadas pela Biblioteca Nacional da França, que chegou a este país em junho do ano passado.

O tempo dedicado a digitalizar um disco depende da sua condição física e das suas condições de som, e geralmente, eu trabalho com cinco discos em um dia, disse Val Pino. Tania Barceló Suárez, bibliotecária especialista da Media Library, disse que esse processo é de vital importância porque permite aos usuários acessar música de formatos modernos, sem expor os discos antigos e danificados pela passagem do tempo.

A sala de música da biblioteca atualmente oferece o serviço de audição e oferece partituras e livros, os últimos em formato impresso.

via El Mercurio salmantino



terça-feira, 7 de novembro de 2017

China inaugura biblioteca pública futurista

Mar do conhecimento? Oceano dos livros?

Arquitetura que impressiona!

A deslumbrante Biblioteca de Tianjin Binhai é um centro cultural de 33.700 m² que possui um luminoso auditório esférico em torno do qual encontram-se cascatas de livros do chão ao teto. As estantes onduladas são o principal dispositivo espacial do edifício. A biblioteca de 5 andares tem espaço para 1,2 milhões de livros.















quinta-feira, 10 de agosto de 2017

A biblioteca do futuro? É digital

As bibliotecas estão cada vez mais a pensar no espaço digital e não físico

As universidades que procuram fornecer o melhor serviço de biblioteca aos alunos devem priorizar a inovação digital


O National Student Survey e o quadro de excelência em ensino estão colocando uma crescente ênfase no ambiente de aprendizagem e na experiência dos alunos. Mas as discussões passaram a refletir nos espaços físicos. Em vez disso, as bibliotecas estão colocando a inovação digital no topo de suas listas.

Qualquer abordagem digital  para as bibliotecas precisa considerar a forma como as expectativas dos alunos variam. Embora as cópias impressas dos textos principais provavelmente tenham um lugar nas prateleiras da biblioteca nos próximos anos, a forma como os alunos consomem e digerem informações está mudando.

Leia a matéria completa publicada no The Guardian, aqui.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Biblioteca de SP cria clube de leitura com apoio das redes sociais


A Biblioteca de São Paulo (Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 - São Paulo / SP) vai realizar uma atividade inédita a partir deste mês. Trata-se do Clube de leitura para jovens, que contará com o auxílio de blogs e redes sociais para incentivar o hábito de ler e aproximar o público teen da literatura. Serão realizados quatro encontros presenciais de agosto a novembro. No primeiro, que acontece no dia 26, das 14h30 às 16h30, será apresentado o livro Os meninos da biblioteca, do escritor João Luiz Marques, que também será o mediador das oficinas na biblioteca. Após cada encontro, a oficina continua na internet, porém, com mediação do personagem fictício Heitor, que acaba de completar 14 anos e de tanto gostar de ler recebeu o apelido de Le (de leitor). O bate-papo é pelo blog do Le-Heitor. Lá, será possível tirar dúvidas e pegar dicas de livros. O trabalho inédito realizado na Biblioteca de São Paulo é uma atividade de fomento à leitura e formação de novos leitores juvenis que demonstra o crescimento desse nicho. As inscrições para o clube devem ser feitas até 11 de agosto pelo e-mail agenda@bsp.org.br ou pessoalmente no balcão de atendimento da instituição.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Conheça a biblioteca que guarda os segredos do Vaticano


Digitalização de acervo já teve início e deve durar 18 anos

via ANSA

Volumes amarelados, documentos e textos sagrados, os primeiros mapas criados e um dos maiores acervos do mundo podem ser encontrados na Biblioteca do Vaticano (https://www.vatlib.it), conhecida como a "Biblioteca dos livros do Papa".

Localizada na cidade do Vaticano, a Biblioteca Apostólica foi fundada pelo papa Nicolau V Parentucelli (1447-1455) no Palácio dos Papas. No final do século 16, ela foi transferida para o Salão Sistino pelo papa Sisto V Peretti (1585-1590).

Atualmente, em seu acervo há mais de 180 mil volumes de manuscritos e arquivos, 1,6 milhão de livros impressos, 8,6 mil incunábulos, 300 mil moedas e medalhas, 150 mil gravuras e desenhos e 150 mil fotografias. No entanto, os arquivos secretos do Vaticano foram retirados do local.

Considerada uma das mais antigas do mundo, a biblioteca começou, recentemente, a digitalizar seu acervo para ficar disponível para visualização on-line e totalmente gratuita.

Para apoiar a iniciativa, a associação "Digita Vaticana Onlus", em parceria com a Biblioteca e a empresa japonesa NTT DATA, imprimiu 200 cópias do manuscrito raro "Folio" do "Virgílio do Vaticano", uma das obras mais importantes do acervo, criado por volta de 400 d.C para presentear os primeiros doadores que ajudassem com uma quantia de 500 euros em apoio ao projeto.

"O projeto é uma das iniciativas da nossa associação para levantar fundos para apoiar a digitalização dos manuscritos da biblioteca, e assim dar a oportunidade para todos, estudiosos ou não, de acessar este imenso patrimônio", afirmou Maite Bulgari, fundador da associação "Digita Vaticana".

A Biblioteca do Vaticano é composta por um grande salão com mais de 70 metros de comprimento e 11 metros de largura e acomoda a história e os pensamentos da humanidade através da arte, literatura, matemática, ciência, direito e medicina, do início da era Cristã até os dias atuais, em diversos idiomas.

"Obras que foram transcritas através do trabalho dos escribas, os monges que passaram boa parte de suas vidas copiando os exemplares. E agora, com a digitalização é possível voltar ao passado. Essa é a a versão moderna dos copiadores antigos", afirmou Irmgard Shuler, responsável pelo laboratório que digitaliza os arquivos.

Antes de serem escaneados, os volumes passam por outro laboratório, conhecido como a "clínica" dos livros do Papa, onde é feito um restauro. "O inimigo número um dos livros antigos? Na minha opinião, é o homem", ressaltou Angela Nunez, líder do departamento, que indicou que às vezes os livros se deterioram ao longo dos anos por problemas de umidade e insetos.

A previsão é de que a digitalização de todo o acervo da Biblioteca do Vaticano aconteça em até 18 anos.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

História do Brasil é contada em documentos, imagens e mapas

Versão digital da Biblioteca Nacional é ampliada para se tornar um ‘Google da memória nacional’

Roberta Pennafort | O Estado de S.Paulo

Enquanto tenta atacar os problemas de seu prédio centenário, que está em obras para a recuperação da fachada e segue com ar condicionado claudicante, a Biblioteca Nacional investe em sua vertente na internet. Criada há dez anos, a BN Digital (https://bndigital.bn.gov.br) reúne hoje 15 milhões de documentos, entre fotografias, mapas, documentos oficiais e edições de jornais e revistas. A coleção inclui as obras raras do acervo, cujo núcleo original foi trazido em 1808 por d. João VI ao Rio, e hoje é acessado online por pesquisadores de todo o mundo.

Obras na Biblioteca Nacional no centro do Rio

Voltada à preservação da memória documental brasileira, a maior biblioteca digital do País tem coleções que começaram a ser escaneadas em 2001, no próprio prédio da Cinelândia, e que hoje estão em domínio público (em sua maioria). O usuário, que no passado só tinha contato com o acervo presencialmente, pode baixar os arquivos em alta resolução, para usá-lo em pesquisas acadêmicas, trabalhos escolares ou outros fins. Até em telas de celulares é possível ter boa visualização. 

O material é preparado para ir para a internet por digitalizadores, bibliotecários, historiadores e arquivistas da BN. A relevância e vastidão do conjunto é tamanha que ele integra o Programa Memória do Mundo, da Unesco. O projeto identifica documentos importantes para a preservação da história da humanidade. Este ano, a capacidade de armazenamento, de 320 terabytes, será dobrada.

“Queremos que a BN Digital seja um Google da memória brasileira, reunindo todos os acervos memoriais do Brasil”, diz a presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Helena Severo. Ela cita instituições parceiras que participam da coleção Brasiliana Iconográfica, a ser disponibilizada no segundo semestre (Instituto Moreira Salles, Pinacoteca de São Paulo, Itaú Cultural e Museus Castro Maya). 

A navegação na BN Digital é simples, e o zoom permite a observação de detalhes de documentos. “Na foto da missa campal que comemorou a Abolição da escravidão, em 1888, a ampliação permite que sejam vistos os rostos da Princesa Isabel, do Conde D’Eu e de Machado de Assis”, exemplifica a coordenadora da BN Digital, Angela Bettencourt, que trabalha com a modernização do acesso ao acervo desde 1983. “Não há acervo que conte a história do Brasil através de documentos, manuscritos e fotos como este.” As pesquisas chegam a 500 mil por mês.

Um exemplar da Bíblia de Mogúncia, impressa em 1462 por Gutenberg na Alemanha, está lá, como a carta de abertura dos portos brasileiros às nações amigas, assinada por d. João VI em 1808, e o maior conjunto de periódicos do Brasil, a Hemeroteca Digital Brasileira, que tem desde o primeiro exemplar do primeiro jornal impresso no território brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro, de 10 de setembro de 1808. São cerca de 14 milhões de páginas de 5 mil veículos. 

Como a BN faz registro de direitos autorais de obras intelectuais desde 1898, seu acervo tem preciosidades, como a partitura original do “tango carnavalesco” Pelo Telefone, de Donga e Mauro Almeida, de 1916, considerado o primeiro samba registrado no Brasil, e manuscritos de compositores como Carlos Gomes e Ernesto Nazareth, entre muitos outros. Outro tesouro é a Coleção Thereza Christina, de 21.742 fotografias, formada por d. Pedro II no século 19. A coleção constitui um painel das primeiras décadas da história da fotografia, técnica da qual o imperador era entusiasta.

Parte desse acervo hoje está exposta ao calor que faz no prédio da BN, cuja sede não conta com refrigeração em todos os seus cinco andares. Para amenizar as altas temperaturas, que tornam os dias de verão desagradáveis para funcionários e usuários desde que o sistema de ar condicionado começou a falhar, há seis anos, a presidente, no cargo há cinco meses, determinou o conserto emergencial de 45 aparelhos portáteis. 

O sistema de ar da BN tem cerca de 30 anos de uso e a manutenção não é eficiente. Em dias de sensação térmica de mais de 40 graus nas ruas, não dá conta. Servidores classificam o cenário como “limite”. 

“A situação não é ideal, mas também não é catastrófica. Há áreas razoavelmente frescas e outras que estavam como uma estufa, e estamos tentando amenizar. Não quero criar falsas expectativas”, pondera a presidente. Ela acredita que só em 2019 o edifício, datado de 1910 e tombado, estará todo adequadamente refrigerado.

A fachada, que chegou a sofrer perda de reboco anos atrás, está em obras. O interior do prédio vai sofrer intervenção na parte elétrica, para que o sistema do ar seja redimensionado - a licitação deve estar pronta no mês que vem. Além dessas reformas e dos investimentos da BN Digital, estão no horizonte a adequação do galpão que a BN tem na zona portuária, para onde a hemeroteca deve ser transferida, um incremento da participação da BN em feiras literárias internacionais e a organização de cinco grandes exposições em sua sede, que deem visibilidade ao acervo. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Biblioteca Britânica disponibiliza manuscritos de clássicos da literatura online


De Jane Austen a Mozart, Biblioteca Britânica disponibiliza clássicos da literatura em portal

Se você é fã de literatura clássica vai ficar feliz em saber que a Biblioteca Britânica disponibilizou manuscritos de clássicos da literatura - como os primeiros trabalhos de Jane Austen - em um portal gratuito. Para facilitar o acesso, todo o material encontra-se organizado em ordem alfabética.

A coleção, que ganhou o nome de Turning the Pages - Virando as Páginas em português literal - começou há muito tempo, em 2012, quando a Biblioteca disponibilizou o original de Alice no País das Maravilhas, escrito pelo pseudônimo de Lewis Carroll, Charles Dodgson. Junto a outros manuscritos que o local já possuía, a coleção começou a tomar forma.

Além dos clássicos, é possível encontrar obras importantes voltadas para a medicina, textos religiosos e até mesmo bíblias. Alguns dos destaques são composições de Mozart e anotações de livros de Leonardo Da Vinci. É possível que o acervo se expanda, conforme a Biblioteca fizer as digitalizações e tiver acesso a outros.

Fonte: Universia


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Vaticano vai aos céus com sua biblioteca digital



Tecnologia desenvolvida por agências espaciais será usada para armazenar a coleção do Vaticano

Mark Bridge | The Times
Tradução Livre

Roma. A Biblioteca do Vaticano está usando a tecnologia desenvolvida por agências espaciais para digitalizar sua coleção, que inclui quase 80 mil manuscritos medievais, bem como 1,1 milhões de volumes impressos.

A Agência Espacial Europeia disse que o sistema Flexible Image Transport System (FITS), desenvolvido com a NASA para armazenar imagens de satélite e outros dados científicos complexos durante centenas de anos, foi a escolha ideal para preservar os arquivos da Igreja Católica.

A Agência Espacial Europeia (ESA) vai continuar a sua parceria com a Biblioteca Apostólica Vaticana para preservar, gerir e partilhar a extensa coleção da biblioteca de documentos e textos.

A parceria entre as duas organizações segue um esforço de cinco anos para digitalizar a coleção da biblioteca utilizando um formato de arquivo especial chamado Flexible Image Transport System (FITS), que foi desenvolvido pela NASA e pela ESA na década de 1970. O FITS permite o armazenamento e o acesso universal, o que significa que os arquivos não terão que ser reformatados para acomodar tecnologias futuras.

Tanto a NASA quanto a ESA usam o formato de arquivo FITS para preservar os dados de várias missões espaciais e torná-los acessíveis às gerações futuras. Funcionários da ESA disseram em comunicado que a biblioteca do Vaticano e a ESA "estão enfrentando problemas muito semelhantes no que diz respeito à manutenção e exploração ativos de dados e podem conseguir um benefício mútuo em cooperar, complementando uns aos outros em lições aprendidas e experiências."

Métodos de conservação anteriores que foram utilizadas pela biblioteca do Vaticano envolveu a digitalização dos arquivos delicados, esses arquivos foram prensados contra uma placa de vidro, o que, inevitavelmente, as distorceu em algum grau. No entanto, o software FITS de scanner desenvolvido para o projeto Biblioteca do Vaticano funciona automaticamente para os diferentes ângulos e gera imagens mais precisas e planas.

Fundada em 1475, a Biblioteca Apostólica do Vaticano é uma das maiores coleções do mundo de textos históricos, com livros que cobrem história, direito, filosofia, ciência e teologia. Muitos dos documentos foram adquiridos antes do advento da imprensa; os mais velhos têm 1.800 anos de idade. Preservar e restaurar esta coleção tornou-se cada vez mais importante nos últimos anos, como eventos sísmicos, por exemplo, ameaçam a longevidade dos registros históricos, disseram no comunicado.

"A Biblioteca Apostólica Vaticana e a Agência Espacial Europeia são dois exemplos que atestam a abordagem de colaboração para o benefício global", Josef Aschbacher, diretor dos Programas de Observação da Terra da ESA,em comunicado. "Enquanto a Agência Espacial Europeia fornece informações globais sobre o estado do nosso planeta através de observações de satélite, a Biblioteca Apostólica Vaticana oferece uma única fonte de sabedoria que tem contribuído para o desenvolvimento da nossa sociedade e cultura."

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Bibliotecas buscam inovação na dinâmica entre livro e leitor

Espaços de leitura vêm integrando tecnologias capazes de atender demandas das diferentes áreas de estudo

Correio do Povo


Bibliotecas buscam inovação na dinâmica entre livro e leitor  | Foto: Ascom / PUCRS / Arquivo / CP       

A ideia de biblioteca como sala de leitura, numa estrutura estante-livro, se transforma. A dinâmica livro-leitor se atualiza. E os novos tempos dão vida aos acervos. Por isso, hoje, as bibliotecas são, estão ou buscam ser diferentes. Na universidade, a coordenadora da biblioteca da Feevale, Patrícia Valerim, define esse espaço como de aprendizagem e de legado além-acervo, composto de novas aquisições e procurando integrar tecnologias — como e-books, leitores e scaners digitais — capazes de atender às demandas dos diferentes cursos e das variadas áreas de estudo. Segundo ela, nos últimos tempos, as bibliotecas se projetam como local de convivência, compartilhamento, encontro entre estudantes e com professores, reunião de equipes ou grupos e/ou para estudo mais individualizado.

Patrícia anuncia novidades. A Biblioteca Central Paulo Sérgio Gusmão, no Campus II, com mais de 180 mil itens de acervo (133 mil somente livros), está sendo ampliada e, para o começo do próximo ano acadêmico, em 2017, já deverá oferecer ainda mais condições e tecnologias à comunidade acadêmica e do entorno, em Novo Hamburgo. Ao espaço, que hoje tem 2,5 mil m2, será incorporado um prédio anexo de 3,5 mil m2, totalizando 6 mil m2 de área útil com recursos, como equipamentos de autoatendimento e autodevolução, e permitindo, entre outros benefícios, autonomia nas devoluções de livros, até quando a biblioteca estiver fechada, disponibilizando o bibliotecário para oferecer maior ajuda, auxílio ou orientações ao público. “Hoje em dia, a leitura não está só no livro físico. A construção do conhecimento está em diversas fontes, como jogos, designs, games ou e-books”, assinala a coordenadora. Além da Biblioteca Central, a Feevale tem ainda a Biblioteca Gastão José Spohr, no Campus I, que reúne acervo às licenciaturas e voltado à Educação Básica, atendendo à Escola de Aplicação da Universidade. Ampliada em 2015, totalizando 742,49m², engloba a biblioteca infantil em um ambiente lúdico que desperta a curiosidade e instiga a criança a entrar no mundo dos livros.

Uma biblioteca acadêmica tem forte componente técnico e especializado, mas, segundo Patrícia, a leitura de lazer complementa e enriquece o leitor, que deve chegar com esse hábito formado, encontrando ali a oportunidade de expansão no mundo das letras, mas também precisa oferecer estímulo aos que não tiveram essa base nos anos escolares anteriores. Por isso, Patrícia ressalta que, por meio de projetos pedagógicos e de iniciativas das bibliotecas, a Feevale promove atividades e eventos, como troca-troca de livros, hora do conto, encontro às cegas, ações lúdicas, além de realizar empréstimos do acervo literário, gratuitamente, à comunidade. “A ampliação da biblioteca vem atender a uma demanda da comunidade acadêmica e a um ‘pensar o futuro’. A melhoria contribui, estrategicamente para o crescimento da Instituição e, principalmente, para a formação de alunos, sendo peça importante na busca da excelência acadêmica para a universidade Feevale”, destaca Alexandre Zeni, pró-reitor de Planejamento e Administração. 

PUCRS 

Considerada uma das mais modernas da América Latina, a Biblioteca Central Ir. José Otão da PUCRS, foi pioneira na adoção de sistemas para automação deste espaço, em 1993. Reinaugurada em 2008, na comemoração dos 60 anos da Universidade e dos 30 anos da biblioteca, reinaugurou suas instalações ampliando seu espaço físico através da integração de uma torre de 14 pavimentos à estrutura antiga.

Atualmente continua adotando sistemas para busca integrada no acervo, soluções de autoatendimento para serviços de empréstimo e devolução de livros e equipamentos de digitalização (scanners) de documentos. Para isto, utiliza a tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID), que também auxilia na organização e controle do acervo físico. No tratamento técnico da informação adota modernos padrões internacionais como RDA (Resource, Description and Access) e CDD (Código de Classificação de Dewey).

Localizada no centro do Campus da PUCRS, com área total de 21 mil metros quadrados, a biblioteca Irmão José Otão é aberta ao público em geral e possui extensão na Faculdade de Medicina junto ao Hospital São Lucas da PUCRS. Com seus modernos e amplos espaços, recursos e serviços para a pesquisa e produção do conhecimento, incentiva o desenvolvimento de competências, difusão cultural e científica. Neste espaço, conta com computadores com acesso à Internet para consulta de recursos digitais, rede sem fio, empréstimo de notebooks para uso local, salas para estudo e equipamentos para autoatendimento.

A Biblioteca Central da PUCRS provê o acesso a 1.600.000 itens de informação, abrangendo livros impressos e digitais (e-books), teses e dissertações, obras raras, materiais multimídia e periódicos impressos e digitais. Para a comunidade acadêmica, além do empréstimo domiciliar e consulta ao acervo, também oferece orientação individual, por bibliotecários, para pesquisa e normalização e o apoio para produção documental.

UPF

Investir em ferramentas qualificadas que possibilitem aos acadêmicos e professores da Universidade de Passo Fundo (UPF) acesso a bases sólidas e atualizadas para o desenvolvimento de seus estudos e pesquisas é uma das prioridades da instituição. Em 2016, a Universidade renovou o acervo de mais de 19 cursos e programas de pós-graduação, o que representou a aquisição de aproximadamente 4,6 mil novos exemplares, distribuídos em toda a Rede — constituída por nove bibliotecas setoriais e uma central, com acervo de mais de 119 mil títulos e 317 mil exemplares de livros.

O acervo de periódicos é composto por cerca de 1,3 mil títulos correntes, somando quase 153 mil exemplares, além de aproximadamente 1,1 mil normas técnicas nacionais e internacionais. A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UPF conta com mais de 940 títulos, além de mais de 700s trabalhos de conclusão de curso (TCCs). “A Biblioteca Central atende a aproximadamente 1,3 mil usuários por dia, número que, em período de provas, aumenta de modo expressivo”, informa a supervisora de acervos multimídias da Rede de Bibliotecas, Laíde Cristina Mühl.

Além da atenção ao acervo físico, a Instituição investe na atualização constante do material disponível nas bibliotecas virtuais: a Biblioteca Universitária Pearson, a Minha Biblioteca e a EBSCO eBooks, nas quais são encontrados livros acadêmicos de várias editoras na íntegra. A Biblioteca conta ainda com o Acervo Especial Cesar Santos, um dos pioneiros na criação da UPF, com aproximadamente 10 mil exemplares de livros e periódicos. Outro destaque é o Acervo Literário de Josué Guimarães (Aljog), com mais de oito mil itens que ajudam a manter viva a memória do escritor gaúcho, que ajudou a consolidar uma das maiores movimentações culturais brasileiras, as Jornadas Literárias de Passo Fundo.

sábado, 12 de novembro de 2016

Quando a internet é a melhor biblioteca


Os 168 milhões de smartphones em uso no país são a principal forma de acesso à internet para o usuário doméstico, atestam os dados da Fundação Getulio Vargas. Nesse papel de porta de entrada para a internet, os smartphones se tornaram ferramenta indispensável para diversas atividades - inclusive a leitura.

Segundo o instituto Pew, o número de pessoas que leem em smartphones e tablets está crescendo continuamente, superando aparelhos específicos para leitura, como o Kindle, da Amazon. De acordo com o instituto, esse resultado demonstra que os celulares estão tornando a leitura digital mais acessível para a população.

Reflexos dessa popularização já podem ser vistos no mercado de publicações digitais. A atividade de e-publishing, que engloba livros, revistas e jornais digitais, está em franco crescimento. No Brasil, a expectativa é que o faturamento do segmento supere 435 milhões de reais, de acordo com previsões do instituto Statista. Espera-se ainda um aumento de cerca de 10% ao ano, resultando em um mercado valorizado em mais de 700 milhões de reais na próxima década.

O crescimento do segmento chama a atenção dos grandes players do mercado. O Grupo Abril, que edita VEJA, lançou em outubro o Go Read, plataforma de assinatura de revistas digitais que já conta com mais de 100 títulos disponíveis para leitura - todo o catálogo é disponibilizado ao usuário mediante pagamento de uma mensalidade única. As revistas podem ser acessadas por meio de um aplicativo.

A plataforma é a evolução de um produto já existente, o Iba Clube, que já apresentava crescimento considerável no número de assinantes - o faturamento da ferramenta aumentou 40% de 2014 para 2015.

A estratégia é semelhante à de outras empresas inseridas na economia on demand, composta por serviços e produtos digitais capazes de suprir uma necessidade ou um desejo do consumidor por meio do acesso imediato e conveniente. O sucesso das plataformas de streaming de filmes e séries, com milhões de usuários espalhados pelo mundo, não deixa dúvidas do potencial desse formato de consumo de conteúdo online.

Veja
via Blog do Galeno

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A Web 2.0 na informatização de bibliotecas: um estudo propositivo


PontodeAcesso, Salvador, v.10, n.2, p.17-38, ago. 2016 

Fernanda Maciel Rufino, Márcio Bezerra Da Silva

Investigação que estuda a aplicação de recursos da Web 2.0 na informatização de bibliotecas, com enfoque nos sistemas de automação de biblioteca (SAB). Apresenta um referencial teórico formalizado por dois objetos de investigação da tecnologia da informação (TI): Web 2.0 e exemplos de recursos, e SAB e seus paradigmas (livre e proprietário). Objetiva-se, de forma geral, analisar o uso de recursos da Web 2.0 nos SAB. Adota como percurso metodológico as técnicas de pesquisa exploratória e bibliográfica, e como campo de estudo o SAB proprietário Pergamum, utilizado na Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE/UnB). Apresenta como resultados da pesquisa a flexibilidade e a colaboração social como as caraterísticas da Web 2.0 que mais se deflagraram nas proposições de ferramentas a serem implementadas, sendo estas a nuvem de tags, Youtube, Facebook, Twitter, Skoob, Really Simple Syndication (RSS), além de um espaço específico para avaliação, compartilhamento e recomendação de materiais. Conclui-se que o bibliotecário precisa estar atento ao uso de inovações das TI nos produtos e serviços oferecidos em suas bibliotecas, especialmente no ambiente digital como os e-commerces e na iniciativa da Biblioteca da Universidade de Caxias do Sul (UCS) em disponibilizar o seu catálogo, também da rede Pergamum, no Facebook.

Clique aqui para o texto completo [pdf/22p.]
Imagem: Internet

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O namoro telefônico de Borges e outros segredos da Biblioteca Nacional da Argentina

Restauradores, ‘detetives’ e inventores trabalham às sombras para preservar o patrimônio bibliográfico

El País


Uma bala perdida em uma publicação periódica, o namoro telefônico que Jorge Luis Borges manteve durante mais de dois anos com uma mulher, mapas que apagaram a presença indígena no país e o fantasma de Evita Perón são alguns dos segredos ocultos na face invisível da Biblioteca Nacional da Argentina. Ao cruzar suas portas, abre-se um universo de prateleiras, elevadores de carga, escadas, salas com temperatura e umidade controladas, oficinas e máquinas, habitado por especialistas apaixonados que catalogam, restauram, ordenam, pesquisam, microfilmam e digitalizam o patrimônio bibliográfico nacional. É também uma viagem no tempo, na qual é possível se deslumbrar - frente a livros do século XV, fotografias do XIX e registros audiovisuais do princípio do XX.

O acervo da biblioteca consta de três milhões de peças, entre livros, jornais, partituras, mapas, fotografias, discos e outros, e cresce de forma constante. Os recém-chegados são recebidos na seção de Aquisições, onde são carimbados e dotados de alarme. Logo passam para o Departamento de Processos Técnicos, para serem catalogados e ordenados por tamanho, antes de continuarem rumo ao depósito geral. Ali, distribuídos em três porões - que ocupam 19.000 metros quadrados do edifício desenhado por Clorindo Testa -, as publicações posteriores a 1940 aguardam o chamado de algum leitor para serem subidas em elevadores de carga até as salas de leitura.

O itinerário habitual está cheio de exceções. Se o material chegar em mau estado - ou se for descoberto deteriorado no depósito - vai direto para o pronto-socorro: a Conservação Preventiva. “Há livros que chegam muito destruídos, muito manuseados, com péssimas intervenções e depois de serem constantemente golpeados pelo tempo”, descreve Pablo Cortez, um dos 36 integrantes do departamento. Eles já viram de tudo: mapas dobrados e furados, exemplares sem lombada, com folhas soltas que tinham que ser montadas como um quebra-cabeça, páginas rasgadas e consertadas com fita adesiva e até um jornal que chegou com um projétil dentro. A missão desses técnicos é estabilizar o material e conter a degradação.

Caso precise de mais cuidados, o paciente é internado na Preservação e Restauração. Nessa oficina, com paciência infinita, mãos especializadas e detalhistas reparam os danos peça por peça. Alguns dos livros que chegam aqui se esfarelam ao toque, o que obriga a extremar as precauções sobre o objeto e pode prolongar o trabalho por semanas ou mesmo meses. Para a limpeza são usados pinceizinhos de cerda suave e borracha ralada; para remendar folhas rasgadas, papel japonês e uma cola natural feita de água e amido de trigo. “Os critérios de conservação são o respeito ao original e a reversibilidade de todos os tratamentos. Por isso se usa esta goma, porque com um pouquinho de umidade se pode retirar o papel japonês”, explica um dos restauradores.

Negativos escondidos num trem

O trabalho minucioso se repete na fototeca e na mapoteca. No dia da visita do EL PAÍS, a conservadora fotográfica Denise Labraga se dedicava aos negativos do jornal Notícias, que circulou em 1973 e 1974, até ser fechado por um decreto da Isabel Perón. “O material foi escondido em uma sacola num trem que fazia o percurso Buenos Aires-Tucumán. Passou alguns anos fazendo essa viagem escondida”, detalha Labraga. Depois, os negativos passaram 30 anos perdidos, até chegarem à biblioteca “em estado impecável”.



Perto dela, o historiador fotográfico Abel Alexander, descendente de daguerreotipistas pioneiros procedentes da Alemanha, descreve uma das joias mais antigas do acervo: uma fotografia de Buenos Aires tirada pelo italiano Benito Panunzi em 1867 ou 1868. “Mostra uma cidade achatada, não havia nenhum edifício com mais de dois andares, com ruas de pedras e transporte a tração animal. Era uma cidade tranquila, quase colonial, mas já despontava como uma grande capital da América Latina.”

Os primeiros mapas desta instituição remontam ao século XVIII, quando cartógrafos franceses, ingleses e espanhóis chegaram ao continente americano em diversas expedições, segundo Graciela Funes, chefa do departamento. Entre os mapas mais importantes dessa época estão os cadastrais, que estabeleciam onde cada pessoa morava. “Aí se pode ver como as pessoas se adaptam às circunstâncias, às guerras...”, diz Funes, citando como exemplo as mudanças ocorridas em 1880, por causa da campanha oficial do Governo argentino para povoar territórios: “Nos primeiros mapas, onde havia diaguitas [um grande grupo indígena que habitava o noroeste da Argentina] puseram índios diaguitas. Em 1880, onde havia diaguitas colocam arvorezinhas, para que as pessoas não se assustassem”.

Os restauradores da biblioteca, orgulhosos do seu trabalho, defendem as virtudes do material sobre o qual labutam: “A era digital nos dá acesso rápido à informação, mas o suporte que tem mais durabilidade é o papel. Há hoje livros do ano 1000 que estão em bom estado, ao passo que um DVD não dura 20 anos”. Os microfilmes, que contêm cópias do acervo bibliográfico, supostamente conservam-se por 500 anos em condições ótimas. A duração do suporte digital, ao qual a instituição começou a converter todo o seu catálogo, ainda é um mistério. Para facilitar essa tarefa titânica, a Biblioteca Nacional conta com um inventor, Rubén Barbei, ex-funcionário da Canon, que está atualmente em pleno processo de fabricação da máquina digitalizadora Biblos II.

Não há na biblioteca nenhum livro milenar, mas sim 21 incunábulos - os primeiros livros impressos - do século XV, entre eles uma página de uma Bíblia de 1454 e um exemplar comentado da Divina Comédia, de Dante Alighieri, de 1484. Eles ficam no coração da instituição, a sala do Tesouro. “Estão em um depósito fortificado e com câmaras de segurança”, diz María Etchepareborda, responsável por esse espaço. Lá também são conservados alguns dos primeiros livros impressos na Argentina, como um Vocabulário da Língua Guarani, de 1772, procedente de uma missão jesuítica do norte do país. “A Argentina não tinha autorização [da Espanha] para fazer uma imprensa, e os jesuítas fizeram a sua própria prensa de tipos móveis”, conta Etchepareborda. Manuscritos, livros estranhos e primeiras edições também são guardados neste depósito custodiado.

A história da Biblioteca Nacional ajuda a entender o amor pelos livros que ainda hoje os argentinos professam, como provam as inumeráveis livrarias da capital. Sua antecessora direta, a biblioteca pública de Buenos Aires, foi criada por decreto pela Primeira Junta em 1810, seis anos antes de o país declarar sua independência. Desde então, teve como diretores intelectuais de grande prestígio, em especial Paul Groussac (1885-1929) e seu sucessor mais célebre, Jorge Luis Borges (1955-1973).

“Ele passeava sozinho pela Biblioteca e quase nunca falava em castelhano. Falava em inglês ou em francês”, recorda Héctor Sigales, um dos funcionários mais antigos, que trabalhou com Borges em seus últimos dois anos como diretor, quando a Biblioteca ainda ocupava a sede anterior, no bairro de San Telmo. “Em cada livro que lia colocava uma crítica”, acrescenta Sigales.

Essas notas manuscritas são o objeto do desejo dos pesquisadores Laura Rosato e Germán Álvarez. Depois de anos de busca dentro e fora da Biblioteca, reuniram 800 livros com anotações e grifos de Borges, que forneceram pistas sobre os processos de leitura e escrita do genial contista. Mas nesse trabalho detetivesco ainda surgem surpresas, como as notas encontradas numa tradução espanhola dos quatro evangelhos. “Achávamos que era um manuscrito, mas nos enganamos. Registram seu namoro telefônico com, supomos pela data, Estela Canto. Está anotado, de forma quase obsessiva, todas as vezes que liga para ela dia após dia, durante dois anos e meio”, relata Álvarez. Se não houver imprevistos, no ano que vem os detalhes virão à luz. Muitas outras histórias, ainda inéditas, aguardam sua vez.