Mostrando postagens com marcador Produção Científica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Produção Científica. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Plataforma dá acesso à produção intelectual da USP desde 1985

Além do acesso à íntegra de textos, ferramenta indica caminho para material ainda não digitalizado; é possível encontrar até teses de 1914 da Poli

Por Luiza Caires -| Jornal da USP


O público tem agora disponível uma plataforma que simplifica o acesso à produção intelectual dos pesquisadores da USP. No momento em que este texto era escrito, a Biblioteca Digital da Produção Intelectual (BDPI) da USP reunia quase 925 mil registros, incluindo a produção científica, acadêmica, artística e técnica de pesquisadores, mais as teses e dissertações defendidas desde 1985 na maior universidade da América Latina. E, diariamente, esses números são atualizados, à medida que os bibliotecários cadastram novos documentos.

Idealizada para funcionar como um buscador sofisticado, mas ao mesmo tempo fácil de personalizar para o usuário de acordo com seus interesses, a ferramenta proporciona, a partir de uma única interface, a descoberta, recuperação e rastreabilidade da produção de pesquisadores, departamentos e unidades da Universidade.

Além do acesso à íntegra de documentos que estão disponíveis para acesso aberto na internet, a BDPI indica o caminho para o material mais antigo, que ainda não foi digitalizado. Os registros remontam ao ano em que se tornou obrigatório aos pesquisadores da USP o depósito de sua produção nas bibliotecas da Universidade. Mas é possível resgatar até mesmo alguns itens mais antigos que 1985, de períodos anteriores à criação da própria USP - por exemplo, teses e dissertações defendidas na então Faculdade de Direito e na Escola Politécnica em 1912 e 1914, que estão nas respectivas bibliotecas (essas unidades já existiam antes da fundação da USP, sendo depois a ela incorporadas).

Assim, mais que um mapa de todo esse conteúdo, “a BDPI é uma ação que valoriza a memória institucional da Universidade”, diz Tiago Murakami, chefe da Divisão de Gestão de Tratamento da Informação do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP.

Está tudo lá?
Em relação ao conteúdo, todos os registros apresentam link para o texto completo, desde que o mesmo esteja disponível e acessível na Universidade. “No cerne da iniciativa está a ideia de promover o acesso aberto aos documentos na íntegra, democratizando esse acesso e estimulando o compartilhamento do conhecimento gerado”, afirmam Murakami e Elisabeth Dudziak, chefe da Divisão de Gestão de Desenvolvimento e Inovação do SIBi. Por isso, explicam eles, a associação de documentos aos registros existentes está sendo feita gradualmente, sempre em colaboração com os autores USP e as bibliotecas do sistema, resgatando e integrando dados e conteúdos que hoje estão disponíveis em uma plataforma mais antiga. “A unificação dos dois sistemas será realizada pouco a pouco”, ressaltam.

Algo que não será encontrado nesta Biblioteca Digital é a produção de alunos que não se trate de teses de doutorado e dissertações de mestrado. Essa limitação está relacionada, entre outras coisas, a direitos autorais, já que o vínculo do aluno com a Universidade é transitório. De qualquer forma, como uma grande parte da produção científica e acadêmica de alunos - a exemplo de artigos em periódicos - é feita em coautoria com docentes, também podemos esperar encontrar uma boa parte desse material na base. Da mesma maneira, não entram para o registro as produções de docentes que tiverem data anterior ao seu ingresso formal ou posterior à sua saída da USP.


Diferentes usos
A BDPI pode ser utilizada para descoberta de artigos, trabalhos de evento, livros e capítulos de livro, teses e dissertações por assunto, autor e por unidade, expressando competências e especialidades dos pesquisadores da USP.

Mas também é fonte de indicadores e métricas associadas às produções registradas, apresentando os totais por tipo de material, autor, ano de publicação, idioma, título da fonte, editora, idioma, agência de fomento, indexação em bases de dados, entre outras opções de recuperação de dados, apresentados em gráficos.

Permite ainda a geração de relatórios que podem ser visualizados na própria interface ou podem ser exportados. Tudo isso a torna uma ferramenta estratégica para o planejamento de unidades, departamentos e da USP como um todo, naquilo que é um dos pilares da sua existência: a pesquisa científica.

Além disso, os registros são enriquecidos com aplicativos que integram dados de outras bases para periódicos, incluindo informações sobre citações, tudo atualizado em tempo real. Isso quer dizer que se o paper de um pesquisador da USP for citado em algum periódico um pouco antes que alguém faça uma pesquisa por esse paper na Biblioteca Digital, os aplicativos que buscam essas citações as encontrarão e já as exibirão junto ao registro.

Painel de indicadores: Dashboard
O Dashboard permite visualizar de maneira simples informações pré-configuradas, podendo ser personalizado pelo usuário, com aplicação de filtros. O pesquisador poderá ter informações agregadas sobre sua unidade, departamento ou sobre um pesquisador, permitindo ter uma visão global do conjunto. Acesso pelo endereço http://bdpi.usp.br/dashboard.php.

Aspectos técnicos
A BDPI foi desenvolvida dentro da Universidade, por sua equipe, e customizada de acordo com as características da USP, com forte inspiração na Vufind, ferramenta aberta de busca para bibliotecas. Feita a partir de um software livre, a BDPI é totalmente compatível com o Google: para os nomes dos campos, foi utilizado um formato de metadados estruturados que este buscador utiliza, facilitando a indexação e recuperação por quem procura o conteúdo no google.com.

A plataforma reúne informações a partir dos registros cadastrados no Dedalus (Banco de Dados Bibliográficos da USP) e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, e enriquece esses registros coletando informações de outras fontes, desde o Currículo Lattes até bases internacionais como Web of Science, Scopus e Dimensions. A coleta é feita via aplicativos do tipo Application Programming Interface (APIs).

“Esforço conjunto de autores USP, das equipes das bibliotecas e do Departamento Técnico do SIBi”, como ressaltam Murakami e Elisabeth Dudziak, “a iniciativa revigora o objetivo de preservar a produção intelectual da Universidade e promover o efetivo acesso aberto”.

Conheça mais detalhes da plataforma no texto Plataforma BDPI revela indicadores e a produção de pesquisadores da USP, publicado no site do Sibi.

Luiza Caires, com informações de Tiago Murakami e Elisabeth Dudziak / Sibi

terça-feira, 17 de abril de 2018

Buscador acadêmico baseado em inteligência artificial



O Semantic Scholar é um mecanismo de busca acadêmico gratuito sem fins lucrativos da AI12 (Allen Institute for Artificial Intelligence), oferece alguns recursos inovadores, incluindo a escolha das palavras-chave e frases mais importantes do texto sem depender de um autor ou editor para inseri-las.

Como funciona

- São mais de 40 milhões de artigos científicos de fontes como PubMed, Nature e ArXiv.

- A Inteligência Artificial analisa trabalhos de pesquisa e extrai autores, referências, figuras e tópicos.

- Uni-se todas essas informações em um quadro abrangente de pesquisa de ponta.



quarta-feira, 7 de março de 2018

Dica para TCCs: 7 melhores sites de pesquisa acadêmica

Conheça algumas das mais eficientes ferramentas para buscas científicas

Daniel Ribeiro | TechTudo


Trabalhos acadêmicos, como monografia e TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), devem ser fundamentados por referências teóricas de publicações científicas. Por isso, sites de buscas como Google, Bing ou DuckDuckGo não são a melhor alternativa para quem quer concluir a graduação. Sites como SciELO, periódicos., da CAPES, e até o Google Acadêmico são os mais recomendados na hora de encontrar artigos, periódicos e bases de dados confiáveis para usar em um trabalho. Veja a seguir os sete melhores sites para pesquisas acadêmicas.


Conheça ferramentas recomendadas para pesquisas acadêmicas (Foto: Foto: Divulgação/Microsoft)

1. SciELO
A plataforma SciELO (http://www.scielo.br/), sigla para Scientific Electronic Library Online, é uma biblioteca eletrônica com um acervo selecionado de periódicos científicos brasileiros. Desenvolvida pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), essa ferramenta conta com o suporte do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).



O motor de busca do SciELO  tem um visual simples, mas oferece recursos muito eficientes (Foto: Daniel Ribeiro) 

A pesquisa pela SciELO oferece acesso a coleções de periódicos como um todo, com informações que vão desde estatísticas de publicação até os fascículos de cada periódico, oferecendo ainda os textos completos de cada artigo. Além disso, o usuário pode visualizar uma série de dados sobre cada revista cientifica, tais como: ISSN, a missão, o corpo editorial etc.



Os resultados da busca por períodicos no SciELO permitem visualizar informações completas sobre revistas científicas (Foto: Daniel Ribeiro) 

Com uma interface simples e prática, a plataforma de pesquisa apresenta três categorias principais de busca: por periódicos, por artigos e por relatórios. Cada uma oferece listas e índices em ordem alfabética, com informações objetivas sobre resultados e eficientes recursos para separar artigos e periódicos encontrados.


Os resultados no SciELO podem ser selecionados e separados da pesquisa principal (Foto: Daniel Ribeiro) 

2. ERIC
ERIC (https://eric.ed.gov/), sigla paraEducational Resources Information Center, é uma base de dados desenvolvida pelo Departamento de Educação dos EUA que oferece acesso a conteúdo da área da educação e temas relacionados. O acervo disponibiliza artigos de periódicos, anais de congresso, conferência, documentos governamentais, teses, dissertações, relatórios, bibliografias, livros e monografias.


O ERIC é um motor de busca com um visual claro e simples (Foto: Daniel Ribeiro) 

Apesar de só oferecer suporte para o inglês, a plataforma tem uma interface que destaca e prioriza sua ferramenta de busca. O usuário tem duas opções de pesquisas pelo ERIC: buscar por coleção de artigos reunidos em seu acervo ou navegar por suas variedades temáticas dos assuntos em seu tesauro.


Contando com um tesauro sofisticado, o ERIC permite buscar melhor os artigos por assuntos (Foto: Daniel Ribeiro) 

A apresentação dos resultados de pesquisas exibe diversos filtros para marcar artigos, tais como: pela data ou tipo de publicação, por assuntos específicos, pelos periódicos de origem, por autores etc. Além disso, cada item apresenta o nome dos autores, o periódico e o ano de publicação, além de trechos do resumo, descritores temáticos e informações ou links sobre o texto completo do artigo.

Os resultados no ERIC apresentam filtros de pesquisas e diversas informações sobre os itens encontrados (Foto: Daniel Ribeiro)

3. Google Acadêmico
Lançado em 2004, o Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/) é uma ferramenta de pesquisa de publicações científicas que apresenta e discrimina resultados em trabalhos acadêmicos, literatura escolar, periódicos de universidades, capítulos de livros e artigos variados.

O Google Acadêmico destaca o campo de pesquisa em sua interface (Foto: Daniel Ribeiro) 

A ferramenta tem uma interface simples e objetiva, apresentando resultados de buscas de forma clara e prática. Os itens listados têm informações sobre o tipo de material encontrado, a autoria, a data de publicação e a quantidade de citações. Além disso, o usuário pode aplicar filtros no material encontrado para separá-los por data, relevância ou idioma.


Os resultados no Google Acadêmico listam várias informações sobre a pesquisa e disponibi
lizam filtros (Foto: Daniel Ribeiro) 

Com sofisticados recursos para pesquisadores e autores, o Google Acadêmico exibe ainda uma série de informações sobre as métricas de citação de periódicos e artigos. Da mesma forma, a plataforma também pode ser integrada uma conta do Gmail, garantindo o acesso a um perfil especial, a biblioteca para guardar resultados e a alertas de publicações de artigos de assuntos específicos.

O Google Acadêmico ainda conta com recursos especiais como biblioteca e alertas (Foto: Daniel Ribeiro) 

4. periodicos (Portal da CAPES)
Desenvolvido pela CAPES, que é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, o portal .periodicos. (http://www.periodicos.capes.gov.br/) disponibiliza o texto integral de artigos de milhares de revistas científicas brasileiras e internacionais. Além disso, a plataforma também conta com mecanismos de busca que pesquisam em dezenas de bases de dados, ampliando bastante a abrangência de seus resultados.

O .periódicos. tem uma interface moderna, bonita e prática (Foto: Daniel Ribeiro) 

Totalmente em português e com um visual sofisticado, a interface apresenta alternativas para pesquisar por assuntos, periódicos, livros ou bases de dados. Da mesma forma, a plataforma também apresenta notícias, agenda de eventos científicos e opções para navegar por conteúdos em diferentes tipos de mídias.

A plataforma da CAPES ainda apresenta notícias e opções de navegação pela categoria das mídias (Foto: Daniel Ribeiro) 

Os resultados de buscas no .periodicos. são apresentados de forma clara e objetiva, destacando uma série de informações sobre os artigos, bem como diversos filtros para especificar as pesquisas por data, assunto, autoria etc.

Com uma apresentação de resultados cheia de informações, o .periódicos. é uma excelente ferramenta para pesquisas científicas (Foto: Daniel Ribeiro)

5. BDTD

Desenvolvida pelo IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), a BDTD, sigla para Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (http://bdtd.ibict.br/vufind/), reúne um acervo com milhares de publicações de trabalhos acadêmicos, integrando o sistema de dezenas de instituições de ensino e pesquisa do Brasil.


A BDTD reúne um acervo com milhares monografias, teses e TCC de instituições de ensino (Foto: Daniel Ribeiro) 

Destacando o recurso de buscas, a plataforma exibe o resultado com informações de forma clara e prática sobre a autoria e a data da defesa. Com fácil acesso ao texto integral de cada item, o usuário ainda pode refinar suas pesquisas com os diversos filtros na parte esquerda da interface.

Os resultados das pesquisas na BDTD apresentam informações específicas sobre os trabalhos acadêmicos (Foto: Daniel Ribeiro) 

A BDTD também oferece um recurso de busca avançada com vários mecanismos para conectar diferentes termos e assuntos, bem como autores, tipos de documentos e palavras em resumos. Além disso, este tipo de pesquisa permite limitar os resultados a datas, idiomas e categorias documentais.

A pesquisa avançada da BDTD oferece ferramentas para juntar e limitar termos (Foto: Daniel Ribeiro) 

6. Science.gov
A plataforma Science.gov (https://ciencia.science.gov/) é uma iniciativa integrada de dezenas de agências e órgãos dos EUA que oferece pesquisas em mais de 60 bases de dados e em mais de 2.200 sites governamentais. Com uma versão em inglês e outra em espanhol, o portal refina resultados de buscas em milhões de páginas cientificas dos Estados Unidos e de países da Europa.

Em um visual prático e bonito, o Science.gov oferece suporte para inglês e espanhol (Foto: Daniel Ribeiro) 

O motor de pesquisa do Science.gov é poderoso e tem tradução para os dois idiomas do site, apresentando os assuntos, a autoria e informações sobre a publicação de cada item.

O motor de buscas da ferramenta Integra os resultados em inglês e espanhol (Foto: Daniel Ribeiro) 

A interface apresenta abas de categorias com os tipos de documentos encontrados e resumos com informações sobre as buscas. Da mesma forma, o usuário ainda pode navegar por uma moderna apresentação visual que exibe os principais assuntos encontrados.

O Science.gov ainda conta com uma apresentação visual das buscas, detalhando a relevância e abrangência de outros assuntos (Foto: Daniel Ribeiro) 

7. ScienceResearch.com
Desenvolvido por uma associação de instituições de pesquisa, o portal ScienceResearch.com utiliza uma tecnologia de pesquisa que faz buscas através da “deep web”, apresentando uma enorme quantidade de resultados.


Em um visual simples e claro, o ScienceResearch.com destaca seu motor de buscas (Foto: Daniel Ribeiro) 

Com centenas de coleções de acervo de ciência e tecnologia, além de ferramentas de buscas simples e avançadas, o ScienceResearch.com apresenta itens com texto integral, elimina conteúdos duplicados e classifica a relevância dos termos da pesquisa.


A ferramenta de busca avançada do ScienceResearch.com permite persquisar em coleções de acervo de ciência e tecnologia (Foto: Daniel Ribeiro) 

Os mecanismos do ScienceResearch.com para refinar resultados são sofisticados e bem variados. O usuário pode utilizar filtros de artigos por assunto, autoria, periódico e data, selecionar uma coleção temática especifica do portal ou ranquear a apresentação dos itens encontrados pela relevância, data, titulo e nome do primeiro autor.

Com inúmeros filtros, ranqueamentos e informações sobre a pesquisa, o ScienceResearch.com é um excelente motor de buscas científicas (Foto: Daniel Ribeiro)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A máquina que trava a ciência


Como exigências burocráticas e uma cultura que privilegia a quantidade em vez da qualidade levam cientistas à exaustão - e à malandragem.

Superinteressante (Dezembro/2017)

O tcheco Ján Hoch tinha 16 anos em 1940, quando perdeu a família nas câmaras de gás de Auschwitz. Sem lenço e sem documento, alistou-se em um contingente de exilados do exército inglês, mudou de nome para Robert Maxwell e combateu na 2a Guerra Mundial. Ao final do conflito, ganhou condecorações e cidadania britânica. Acabou destacado para uma base na Berlim ocupada.

O militar não sabia, mas sua temporada na capital alemã o tornaria um milionário - e mudaria a história da ciência. Lá ele conheceu a Springer, uma editora alemã fundada em 1842. Eles eram especialistas em publicar artigos científicos: os textos que todo pesquisador precisa escrever para divulgar seus experimentos, descobertas e resultados de pesquisa.

Investir nesse ramo em um continente destruído não é um jeito óbvio de ganhar dinheiro. Maxwell, porém, enxergou longe: percebeu que a ciência iria bombar no pós-guerra. Os governos, afinal, já tinham percebido que, quanto maior o avanço nos laboratórios, maior a vantagem no front (a bomba atômica, filhote da Teoria da Relatividade, que o diga). Então não faltaria dinheiro público para as pesquisas. Além disso, era óbvio que os cientistas britânicos precisariam cada vez mais de notícias sobre a ciência que estava sendo feita em outros países - a começar pela própria Alemanha, onde ele estava.

Bingo. Maxwell acionou sua rede de contatos e em dois tempos se tornou distribuidor oficial de artigos científicos da Springer no Reino Unido e nos EUA. A sacada foi tão lucrativa que em 1951 ele já tinha capital e contatos para fundar sua própria editora, agora em território britânico - a Pergamon Press. Maxwell prosperou, criou um império midiático e passou décadas nas listas de homens mais ricos da Inglaterra.

Mas o grande legado do magnata não foi exatamente a Pergamon. Foi ter criado um modelo de negócios extremamente lucrativo. E que ainda dá um belo dinheiro: a editora Elsevier - que comprou a Pergamon em 1991 e hoje é a maior editora de literatura científica do planeta - lucrou US$ 1 bilhão sobre um faturamento de US$ 2,7 bilhões, margem de lucro de 36,7%, maior que o do Google (26,5%).

Lindo. Só tem um detalhe: essa indústria pode ser péssima para a ciência. É o que vamos ver a seguir.

De Newton à Nature

Na ciência, não basta descobrir, é preciso contar aos outros o que você descobriu. Copérnico, Galileu e Newton, por exemplo, escreviam livros técnicos, relatando suas experiências e resultados. Com o tempo, a divulgação passou a acontecer menos por livros e mais por artigos científicos - peças curtas, publicadas em revistas e periódicos especializados.

As primeiras revistas científicas, lá no século 18, não tinham fins lucrativos. Mas com o aumento dos investimentos públicos nos laboratórios, a partir da década de 1950, as universidades passaram a ter muito mais pesquisadores. São todos funcionários com carteira assinada, que precisam mostrar serviço - e que recebem avaliações de desempenho.

Pois bem. Para fazer essas avaliações, a comunidade acadêmica adotou basicamente dois critérios: a quantidade de artigos científicos publicados em revistas - um suposto sinal de produtividade e dedicação - e o número de vezes em que esses artigos são citados em outros artigos - o que, em teoria, é uma evidência de que o trabalho foi relevante e influente.

Bom, os cientistas não querem lucro, só divulgação. Então entregam o material de graça. Na outra ponta da equação, há as universidades, que não têm outra opção a não ser pagar o que as editoras pedem para ter acesso às pesquisas mais importantes (afinal, um pesquisador só consegue trabalhar se puder ler o trabalho de outros pesquisadores). Isso deu origem a um modelo de negócio sem igual: você, dono da editora de periódicos científicos, recebe conteúdo de graça e vende a um público disposto a pagar muito.

“Quando os cientistas passaram a ser avaliados por produtividade, eles tiveram de publicar mais”, diz Fernando Reinach, ex-biólogo da USP. Empresários como Maxwell farejaram o bom negócio - pegar de graça do governo [que financia as pesquisas] para vender de volta para o governo [que financia as universidades] - e mais do que isso: perceberam que era fácil incentivá-lo com um empurrãozinho.

O empurrãozinho, no caso, foi criar grifes da ciência: periódicos muito seletivos, que só publicam a nata das pesquisas. Sair em títulos como Cell, Nature ou Science dá visibilidade e é bom para a carreira dos cientistas. Outro estímulo para o lucro foi criar uma maré de revistas extremamente especializadas, que abarcavam todos os nichos da ciência - até os que ainda nem existiam.

“Quando um periódico fica famoso, ele cria um monopólio em sua área. Se há um periódico de um determinado campo [de pesquisa], todas as bibliotecas universitárias precisam ter uma assinatura”, explica Neal S. Young, chefe do setor de Hematologia do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA. “Com isso, as editoras podem cobrar preços muito altos.” A própria Elsevier tem 2,7 mil títulos - entre eles Revascularização Cardiovascular e o Periódico Internacional de Adesão e Adesivos.

As bibliotecas, com orçamentos na casa dos milhões de dólares, se entupiram de revistas especializadas. Em 1988, Maxwell afirmou que, com a internet e o fim dos custos de impressão, as editoras científicas lucrariam mais ainda. Acertou.

“Na era digital, a figura da editora científica é ainda mais importante”, afirma Dante Cid, vice-presidente de relações acadêmicas da Elsevier no Brasil. “Ela inibe a disseminação de informações equivocadas e colabora com a distribuição da pesquisa de qualidade.”

De fato, os padrões de excelência da Elsevier e de outras editoras de peso continuam altos. Mas o sistema causa distorções. “Um Newton da vida, que passava a vida toda trabalhando e publicava pouco, não teria chance no século 21”, diz Fernando Reinach.


2,7 mil: É o número de revistas científicas de uma única editora, a Elsevier. São títulos ultraespecializados, como “Periódico Internacional de Adesão e Adesivos” e “Revista da Sociedade da Fertilidade do Oriente Médio”. 

Masturbação acadêmica

Hoje, para um cientista brasileiro da área de Farmácia receber a classificação máxima (1A) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, ele precisa ter publicado 70 artigos científicos nos últimos dez anos. Ou seja: ele é obrigado a criar um avanço científico a cada dois meses.

Como a classificação de um cientista no CNPq define quanto dinheiro ele pode receber para suas pesquisas, surge a mentalidade do “quanto mais, melhor”. A quantidade bruta de artigos passa a valer mais do que a criatividade e a originalidade de cada um. Os pesquisadores, sob pressão, se preocupam mais em bater metas do que em produzir boa ciência. “É aflitivo”, resume Kenneth Camargo, professor de saúde coletiva da UERJ e editor de revistas científicas. “Para conseguir promoções na carreira e recursos de pesquisa, você é induzido a publicar o tempo todo. E isso gera expedientes eticamente discutíveis.”

Um desses expedientes é o “pedágio”: você, cientista, exige ser creditado como autor em alguma pesquisa que tenha usado equipamento do seu laboratório - mesmo que você nem tenha participado do estudo. Outro é a “ciência salame”: fatiar uma pesquisa longa, que deveria ser apresentada de uma vez só, em vários pequenos artigos com conclusões parciais - o que aumenta o volume de produção e a classificação acadêmica do autor.

Uma consequência do salame é que o impacto científico de cada artigo diminui. E aí surge um problema: não basta publicar muito. Suas publicações também precisam servir de referência para pesquisas futuras no mesmo assunto. Se seu trabalho é fragmentado e inconclusivo, outros cientistas não terão motivo para consultá-lo.

É fácil verificar essa infestação de artigos pouco relevantes nos números. Um estudo feito por Sidney Redner, da Universidade de Boston, revelou que, dos 353  mil estudos publicados entre 1893 e 2003 na Physical Review, apenas 2 mil (0,56%) tiveram mais de cem citações. Oitenta e quatro mil (24%) foram citados só uma vez.

O número de citações, porém, também adiciona pontos de desempenho. Então não vale a pena fazer um monte de salames, certo? Não: os pesquisadores criaram artifícios para obter citações do nada. É o caso d0s “clubes de citações”. Você força a barra no seu artigo para citar trabalhos dos colegas. Os colegas sabem que você faz isso por eles, e também dão um jeito de citar seus artigos pouco relevantes. Pronto, está formado o clube. Também há as autocitações: você chega e cita a si próprio. Masturbação acadêmica.

Pagou, passou

Se nada da lista acima der certo, ainda há as revistas científicas do tipo “pagou, passou.” Esse nicho de mercado surgiu na última década, com intenções boas: as gigantes, como Nature e Science, ofereceram aos pesquisadores a opção de pagar pelos custos de publicação de seus artigos. Assim, o conteúdo fica disponível gratuitamente na internet, sem paywall ou assinatura - colaborando com a democratização da ciência.

Era só uma transferência do custo de publicação: parar de cobrar do leitor e passar a cobrar do autor, sem diminuir as exigências de qualidade. Mas é claro que a fronteira entre pagar para liberar o acesso à pesquisa e pagar para conseguir publicar um artigo péssimo é tênue, para dizer o mínimo. Tanto que surgiu um mercado paralelo de revistas picaretas, que topam qualquer negócio.

Jeffrey Beall, bibliotecário da Universidade do Colorado, estima que entre 5% e 10% dos artigos open access tenham sido publicados por periódicos que nem leem o material enviado por pesquisadores desesperados - e cobram centenas de dólares por essa conveniente vista grossa.

70 artigos científicos em 10 anos: É o que um cientista brasileiro da área de Farmácia precisa publicar para chegar ao topo da carreira. Nem um Isaac Newton teria chance nesse modelo. A solução? “Fatiar” uma única descoberta em vários artigos. Diluindo, rende mais. 

Em 2014, para fazer um teste bem-humorado, o cientista da informação australiano Peter Vamplew enviou a uma dessas publicações caça-níqueis um artigo falso intitulado Get Me Off Your Fucking Mailing List (em bom português, “me tire da sua p**** de lista de e-mails”). A coisa consistia, dos gráficos à conclusão, no pedido do título repetido 870 vezes.

Algumas semanas depois, recebeu a resposta da revista - que, apesar do site de aparência amadora, leva o pomposo nome de Periódico Internacional de Tecnologia Computacional Avançada: os editores pediram algumas “referências a mais”. De resto, tudo ótimo: Me tire da sua p**** de lista de e-mails foi aprovado para publicação.

Esse arsenal de truques deixa claro: publicar com qualidade e em quantidade ao mesmo tempo é impossível. “A boa ciência, que é de fato inovadora, sempre foi rara”, afirma Kenneth Camargo. “Muita gente trabalha, mas as grandes contribuições são agulhas no palheiro. Com essa maré de artigos científicos, você multiplica os palheiros, mas não as agulhas.”

Por outro lado, avaliar ciência sem usar números não é tarefa fácil. Mesmo o CNPq tem consciência de que quantidade não é sinônimo de qualidade. Acontece que não há uma maneira objetiva de medir criatividade e inovação. No final do dia, as bolsas ainda precisam ser distribuídas e os professores ainda precisam ser contratados de acordo com seus méritos. As universidades concordaram que citações e artigos são o melhor jeito de fazer isso - e as editoras pularam dentro. Mesmo assim, não falta quem nade contra essa corrente.

Robin Hood na pós

Em junho deste ano, aos 28 anos de idade, a pesquisadora Alexandra Elbakyan, nascida no Cazaquistão, foi condenada pela Justiça americana a pagar US$ 15 milhões à Elsevier. A ativista começou uma carreira promissora na neurociência, mas não tinha verba para consultar as dezenas de artigos científicos que precisava para sua pós-graduação. Se uma universidade não assina um determinado periódico, o pesquisador precisa desembolsar em média US$ 30 para acessar um único artigo por apenas 48 horas. Salgado.

Dante Cid, da Elsevier, justificou à SUPER que os preços altos são reflexo da enorme operação da editora - que emprega 7,5 mil pessoas em 12 países e publica 16% de todas as descobertas do mundo.

Seja como for, Alexandra Elbakyan estava em busca de uma solução para o bolso dos cientistas. Descobriu, então, que vários deles usavam fóruns na internet para compartilhar senhas e assinaturas de periódicos. Inspirada pelo método, em 2011 criou o Sci-Hub: um banco de artigos pirateados que contém 64,5 milhões de arquivos - tudo alimentado por senhas fornecidas anonimamente.

“O Sci-Hub é para a ciência hoje o que o Napster foi nos anos 1990”, avalia Marco Mello, professor de ecologia da UFMG. “Se ele não tivesse aparecido, a indústria da música não teria se reinventado. Essas iniciativas estão forçando o sistema a se repensar.”

Elbakyan se exilou e está fora do alcance da Justiça americana, mas o Sci-Hub continua no ar, hospedado em domínios exóticos como o das Ilhas Cocos (.cc). De que a iniciativa é ilegal, não há dúvida. Mas sua popularidade silenciosa entre acadêmicos é um sintoma da frustração com o status quo da publicação científica. Dá para entender por quê.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Agora você pode ler a tese de doutorado de Stephen Hawking

Vai encarar? O documento agora está disponível no site de Cambridge, e é parte de uma campanha pelo livre acesso à informação científica

Por Bruno Vaiano | Superinteressante

(University of Cambridge/Stephen Hawking/Reprodução)

Você é do tipo que tatuou frases de Tchékhov no antebraço? Que zerou Proust no original? Que leva os hexâmetros da Ilíada para o banheiro de tão fáceis? Então chegou a hora de uma mudança de hábito: que tal ler a tese de doutorado do astrofísico Stephen Hawking, terminada em 1966?

O documento - um dos mais importantes da história da física - agora pode ser baixado gratuitamente no site da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Você pode encontrá-lo aqui, mas não fique triste se não conseguir acessar a página de primeira. O banco de teses da instituição não está acostumado a receber um número de cliques tão grande em uma tacada só, e acabou congestionando. Não tire o dedo do F5!

Propriedades dos Universos em Expansão foi disponibilizada ao público a pedido do autor, que apoia iniciativas de acesso aberto. “Qualquer um, em qualquer lugar do mundo deve ter acesso livre não só à minha pesquisa, mas à pesquisa de cada grande mente questionadora de todo o espectro da conhecimento humano”, declarou Hawking. “Cada geração se apoia nos ombros daqueles que vieram antes dela. Eu, quando era um jovem doutorando em Cambridge, me inspirei nos trabalhos de Isaac Newton, James Maxwell e Albert Einstein. É maravilhoso saber quantas pessoas já demonstraram interesse em baixar a minha tese - espero que elas não se desapontem.”

Cambridge aproveitou o ato simbólico de Hawking para pedir a seus 8,6 mil professores, aposentados ou não, que façam o mesmo com suas teses e dissertações. A instituição foi responsável, ao todo, por 98 prêmios Nobel. A partir de outubro, para comemorar a Semana Internacional do Acesso Aberto, todo mundo que completar um doutorado na universidade britânica - eleita a segunda melhor do mundo por alguns rankings - será convidado a doar uma cópia digital de seu trabalho à biblioteca virtual Apollo, que é completamente gratuita.

A Apollo contém 200 mil itens, que incluem 15 mil artigos científicos, 10 mil imagens, 2,4 mil teses e mil bancos de dados. É muito, mas não chega aos pés dos 8 milhões de itens da biblioteca física.

O livre acesso à pesquisa científica está em pauta desde a criação do Sci-Hub, um repositório ilegal de artigos científicos pirateados criado pela pesquisadora e ativista cazaque Alexandra Elbakyan. A plataforma é conhecida popularmente como “o Pirate Bay da ciência”.

A atitude radical de Elbakyan reflete a posição de muitos cientistas que não têm problemas com a lei, mas consideram desonesto o modelo de negócio adotado pelas grandes editoras de ciência, como a Elsevier e a Springer. “É óbvio que o Sci-Hub é ilegal”, afirmou o biólogo Stephen Curry à equipe de notícias da Nature. “Mas o fato de que ele é tão popular, dentro e fora da academia, é um sintoma da frustração das pessoas com o status quo das publicações acadêmicas.” A Elsevier, em 2010, lucrou 724 milhões de libras com só 2 bilhões de libras de receita - uma margem de lucro de 36%, e um contraste notável com o Art. 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos, que garante o direito de “compartilhar o avanço científico e seus benefícios”.

É claro que, políticas de democratização à parte, há uma grande diferença entre ter a tese de Hawking em seu computador e conseguir entendê-la. É por isso que, se você não é graduado em Física, a SUPER recomenda Uma Breve História do Tempo (Intrínseca, R$ 39,90). O livro, voltado para o público leigo, atesta o talento de Hawking para explicar conceitos complicados de forma simples - e pode te inspirar (quem sabe?) a entrar em uma faculdade de exatas bem cabeludas.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Comunicação Científica na Web e na América Latina: Entrevista com Isidro Aguillo


Reconhecido como autoridade internacional nas questões relacionadas à bibliometria, cientometria e webometria, Isidro Aguillo concedeu entrevista (por e-mail) à equipe do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBiUSP), onde compartilhou alguns de seus pontos de vista sobre a visibilidade acadêmica e científica na web, impacto da ciência e o futuro da comunicação científica. Antes, saiba um pouco mais sobre esse importante pesquisador, suas atividades e projetos.

Nascido Isidro Francisco Aguillo Caño em La Rioja, Espanha em 1963, licenciou-se em Biologia com especialização em Zoologia, é mestre em Informação e Documentação, diplomado em Estudios Avanzados (DEA), detentor de dois títulos Doctor Honoris Causa. É membro regular de comissões científicas de conferências e revistas científicas, autor de numerosas publicações sobre os processos de comunicação científica e indicadores web de desenvolvimento da ciência e da tecnologia, quase que diariamente compartilha suas opiniões no Twitter

Editor do Rankings Web de Universidades - Webometrics, responsável pelo Laboratorio de Cibermetria (Grupo Scimago) do Instituto de Bienes y Políticas Públicas (IPP - CSIC), dedica-se também a projetos como o OpenAIRE - de repositórios da Comissão Européia, ACUMEN - portfolio de indicadores científicos para indivíduos do VII Programa Marco de Inovação e Desenvolvimento da União Européia (UE); QEAVIS (Seção eHumanidades); Redes de Colaboración (Visibilidade Web) e PRACTIS 2008 (Tecnometría de CC SS e HH) do Plano Nacional de Inovação e Desenvolvimento da Red de Excelencia MA2VICMR da Comunidade de Madrid, Espanha. 

Ornitólogo aficionado, já fez várias viagens de observação de aves, da Floresta Amazônica aos desertos da Namíbia, entre outros destinos. Sua lista inclui mais de 2.000 espécies. Em 2012, foi um dos palestrantes convidados pelo SIBiUSP para o Simpósio Internacional sobre Rankings Universitários e Impacto Acadêmico na Era do Acesso Aberto, em São Paulo, Brasil, que reuniu especialistas internacionais e possibilitou a discussão em torno do impacto gerado pela produção científica e os indicadores de qualidade institucionais. Confira a entrevista. 

SIBiUSP: Você é pesquisador do Cybermetrics Lab, ligado à Agencia Estatal Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC). Conte-nos um pouco sobre este laboratório e seu papel na estrutura de Ciência e Tecnologia (C&T) da Espanha.

Isidro Aguillo: O Cybermetrics Lab é um grupo de pesquisa pertencente ao CSIC, o mais importante organismo de pesquisa pública da Espanha e um dos maiores da Europa. Nossa principal missão é estudar a comunicação científica na Web, publicando artigos e relatórios sobre esse tema em nível local e global, mas com um forte interesse na América Latina [LATAM]. Também acolhemos doutorandos e visitantes de pós-doutorado, e estamos envolvidos em projetos da União Europeia (UE).

SIBiUSP: O Cybermetrics Lab desenvolveu e mantém ferramentas de avaliação, como o Webometrics Ranking, o Ranking Web de Repositórios e, mais recentemente, a lista de Autores com h> 100 segundo seu perfil no Google Scholar Citations¹ .
     - De que maneira essas ferramentas são distintas de outras disponíveis?

Isidro Aguillo: A diferença mais óbvia é que estamos usando indicadores da web, sozinhos ou combinados com dados bibliométricos. Mas há também uma agenda “política”, pois decidimos cobrir todos os países em nossa análise, não apenas os desenvolvidos. Nossas listas de instituições possuem mais de 40.000 entradas, enquanto o número de indivíduos classificados é provavelmente perto de 200.000, com uma cobertura completa dos países latino-americanos [LATAM].

SIBiUSP: O Google Scholar é uma fonte de dados confiável?
Isidro Aguillo: Verificando a literatura disponível sobre este banco de dados, a maioria dos estudiosos concorda que é tão confiável como WoS ou Scopus, mas com uma cobertura que é várias vezes maior e considerando que é de livre acesso, eu acho que deveria ser a opção preferida para os países latino-americanos. Claro, existem problemas, como os indicadores de revistas científicas do Google Scholar Metrics que, na minha opinião, são demasiado tendenciosos para serem úteis.

SIBiUSP: Qual é a real importância dos rankings universitários?

Isidro Aguillo: Para nós, tem sido uma ferramenta poderosa para promover iniciativas de acesso aberto, que foi (e ainda é) o objetivo original dos Rankings Web. Outros editores de rankings têm outras agendas com fortes vieses políticos e comerciais e há até charlatões sem qualquer conhecimento real sobre o ensino superior e sobre as universidades. Mas no final há uma grande sobreposição entre os melhores desempenhos dos principais rankings, por isso há poucas dúvidas sobre quais são as melhores universidades de acordo com determinado modelo - as chamadas universidades intensivas em pesquisa. No entanto, as instituições que seguem outros modelos, como as universidades nacionais, que são tão importantes na América Latina, não são adequadamente reconhecidas nos rankings ARWU [Academic Ranking of World Universities], THE [Times Higher Education World University Rankings] ou o QS [Quacquarelli Symmonds World University Rankings].

SIBiUSP: Muitos pesquisadores consideram as Ciências Humanas periféricas no campo das ciências. Isso se deve às diferentes dinâmicas de produção de conhecimento, que dificultam a mensuração pelos padrões atuais de avaliação científica.
    - Neste sentido, que alternativas teríamos para demonstrar o potencial desta área e quais os indicadores que poderiam ser utilizados?

Isidro Aguillo: Discordo fortemente dessa afirmação. Como mostra o Google Scholar, as contribuições das Humanidades não são apenas relevantes, mas têm um impacto independente dos canais de publicação. A bibliometria fácil realizada por estudiosos com a base de dados WoS é realmente errada em muitas disciplinas devido aos grandes vieses e lacunas das bases de dados “tradicionais”.

SIBiUSP: Tendo em conta que os atuais modelos de avaliação científica tendem a enfatizar as citações em vez dos resultados reais, uma alternativa a esta questão seria medir o impacto das pesquisas científicas na sociedade. Desta forma, como poderíamos medir o impacto social?

Isidro Aguillo: Em primeiro lugar, acho que as citações ainda têm um papel importante nos processos de avaliação e não devem ser descartadas. No entanto, elas devem ser utilizadas em combinação com métodos qualitativos como o Manifesto de Leiden recomenda. Os indicadores altmetrics² podem ser úteis também, mas eu acho que os atuais indicadores disponíveis estão realmente longe de medir verdadeiro impacto social. Os bibliotecários passaram por alto de outra disciplina de métricas que deve ser explorada em profundidade para tal propósito: Econometria. Como método, não apenas como forma de incorporar fontes de dados econômicos.

SIBiUSP: Em sua recente apresentação, você destacou a importância dos perfis de autores, instituições e grupos de pesquisa, que representam uma mudança de paradigma na ciência e na comunicação científica.

Isidro Aguillo: Devemos abandonar as métricas baseadas em revistas que não são úteis e são muito enganosas para os processos de avaliação, um grave erro comum na América Latina. O perfil é o futuro e a marca digital do pesquisador se tornará cada vez mais importante, por isso novas estratégias de comunicação devem ser desenvolvidas, especialmente aquelas que envolvem redes sociais.

SIBiUSP: Neste cenário, como fica a revisão por pares, elemento fundamental da validação da qualidade da pesquisa? E o que acontece com o papel do marketing? Poderá desvirtuar a avaliação da qualidade da ciência?

Isidro Aguillo: Tenho sérias dúvidas sobre o papel da revista tradicional como a principal unidade de comunicação científica. O esforço deve ser no sentido de fortalecer os artigos individuais, e a revisão por pares aberta é uma boa opção para identificar e filtrar a qualidade. Existem vários modelos que podem ser aplicados, mas minhas preferências vão para um híbrido de revisão por pares pré e pós-aberta.

Desde o passado o prestígio tem sido um motor para a mobilidade acadêmica, e é um fator chave para explicar o sucesso das instituições anglo-saxônicas. Até muito recentemente este recurso intangível era construído de uma forma muito opaca, mas agora a marca digital de cada pesquisador oferece uma maneira mais acessível e transparente para construí-lo, embora a confiabilidade dos métodos de marketing possa ser um problema.

SIBiUSP: Tendo em conta este pano de fundo, qual seria o futuro da publicação científica? Estaremos publicando em revistas como fazemos hoje?

Isidro Aguillo:  Acho que o grande problema da ciência latino-americana é a inflação de revistas científicas. Redalyc, Scielo, Latindex e PKP [Public Knowledge Project] devem repensar seriamente suas políticas, pois promovem um enorme aumento de periódicos medíocres. Também na América Latina não há diretórios de assunto ou megajournals que deveriam ter um papel na transição para um cenário sem revistas. Também me preocupa o foco atual dos repositórios latino-americanos em teses e dissertações e artigos em revistas locais. Outra questão que necessita de mais debate é a preferência dos repositórios / coletores de conteúdo nacionais relativamente aos repositórios institucionais. Para minha surpresa um grande número de repositórios institucionais na América Latina coletam principalmente teses e dissertações (Doutorado e Mestrado). Parece que muitas universidades pensam que apenas teses são de acesso aberto ou talvez publiquem poucos artigos em revistas não-locais.

SIBiUSP: Como você vê o crescimento das recentes métricas alternativas na avaliação da pesquisa e dos pesquisadores?

Isidro Aguillo: Há muitos artigos na América Latina descrevendo muito acriticamente o movimento altmetrics². Há muita ênfase nas métricas de uso que podem ser muito enganosas sem fixação de padrões, e os indicadores fornecidos por serviços como ResearchGate, Academia ou Mendeley de forma alguma substituem a análise de citação (provavelmente tais indicadores sejam um subconjunto da análise de citação); e o indicador composto oferecido pela [empresa] Altmetric.com é uma caixa preta, e ninguém sabe exatamente o que o Twittermetrics está realmente medindo.

SIBiUSP: Na sua opinião, qual é a importância da Ciência Aberta? Ela é realmente viável ou será “destruída” pelos interesses comerciais? Como vê as ameaças ao acesso aberto?

Isidro Aguillo: Cada um dos componentes da Ciência Aberta (incluindo até mesmo a Ciência do Cidadão - Citizen Science) já está sendo alvo de interesses comerciais. Os bibliotecários estão contribuindo com a aquisição ou suporte de ferramentas comerciais e serviços com condições desvantajosas ​​(nada de novo nisso, uma vez que as condições de assinaturas digitais já são bastante abusivas). Em minha opinião, para evitar problemas, a Ciência Aberta deve ser fortemente apoiada por governos envolvendo um vigoroso financiamento público de infraestruturas e ferramentas.

SIBiUSP: Qual é o papel das bibliotecas e bibliotecários no atual cenário de mudança da avaliação científica?

Isidro Aguillo: Na Europa, os bibliotecários acadêmicos já constituem o maior grupo bibliométrico existente, mas ainda há muitos problemas - muitos deles não conhecem o Manifesto de Leiden, por exemplo. Na América Latina temos iniciativas equivocadas como a bibliografia do Redalyc, outras com viabilidade futura incerta como o acordo Scielo-WoS, e em geral a maioria de seus bibliotecários ainda não estão assumindo um papel bibliométrico. Se posso dar um conselho, sugiro-lhes o modelo CRIS [Current Research Information System], evitando produtos comerciais como PURE e analisando serviços como o FUTUR (da Universidade Politécnica da Catalunha).

Notas:
1. h = índice h, mede a produtividade e o impacto individual de cientistas através do número de publicações e suas citações. Saiba mais em: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_h
2. Indicadores altmetrics = medidas de indicadores alternativos (em português: altmetria) baseadas no uso e nas menções nas mídias sociais. Saiba mais em: https://bsf.org.br/2014/07/15/altmetrics-redes-sociais-como-metricas-alternativas-para-medir-o-impacto-cientifico/ 

via SIBiUSP

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Buscadores acadêmicos para pesquisas


Veja uma lista dos melhores buscadores acadêmicos para realizar um trabalho ou pesquisa acadêmica.

Ao desenvolver uma pesquisa ou trabalho para a universidade, os alunos devem ter recursos e fontes suficientes para obter as informações necessárias para a preparação dos conteúdos. Dada a quantidade de informações que circulam na Internet, é difícil de saber quais são as fontes mais confiáveis ao selecionar o material. Felizmente, os buscadores acadêmicos que podem oferecer conteúdo de qualidade que procuram, preparada por universidades e especialistas.

Uma vez selecionado o tema a ser abordado na pesquisa, o vital é ter bom senso ao escolher fontes, separando-as em dois grupos: fontes primárias : as que contêm informações original e fontes secundárias : aquelas que contêm informações reelaboradas e sintetizadas.

As fontes secundárias são mais fáceis de encontrar na Internet, só precisamos inserir algumas palavras-chave no Google para obter milhões de resultados, mas para encontrar fontes primárias devemos contar com buscadores especiais, como buscadores acadêmicos, usados para encontrar conteúdo de autores e especialistas, e são a base de qualquer investigação.

Se você está elaborando uma pesquisa ou trabalho acadêmico e precisa de material para entender o problema, gerar um ponto de vista próprio e fazer um conteúdo crítico de qualidade, nós trazemos alguns buscadores que serão muito úteis.

Academia.edu: é atualmente um dos buscadores acadêmicos mais populares, que funciona como uma comunidade onde o conhecimento é compartilhado. Pesquisadores e especialistas compartilham o seu trabalho para que outros possam ler, também permite acompanhar os usuários de acordo com os interesses.

Eric: funciona como uma biblioteca virtual especializada, onde os pesquisadores podem encontrar artigos, revistas e obras de especialistas das mais diversas áreas. É uma iniciativa do Instituto de Ciências da Educação do Departamento de Educação dos Estados Unidos.

Redalyc: Esta é a Rede de Revistas Científicas da América Latina e do Caribe, Espanha e Portugal, uma biblioteca virtual com milhares de publicações e obras de literatura. Contém diferentes seções para uma pesquisa mais eficaz, podendo até mesmo criar um perfil para identificar determinado conteúdo.

ISeek: é uma plataforma abrangente que hospeda milhares de recursos e materiais de universidades, agências governamentais e diferentes ONGs. Ele funciona com um buscador muito preciso, que pode ajudá-lo a encontrar conteúdos e publicações sobre temas específicos.

Science Research: Este é um dos buscadores mais específicos, que evita a duplicação de conteúdo, ajudando a separar o conteúdo original do que não é. Contém buscas avançadas para encontrar materiais em vários formatos e publicações, bem como pesquisas por autores.

Dialnet: é um buscador, que funciona como uma biblioteca, abrigando materiais mais relevantes para acadêmicos, pesquisadores e jornalistas. Através dele você pode encontrar teses, revistas, conferências e vários conteúdos acadêmicos de qualidade, separadas por assunto e tipo de publicação. 

Fonte: Universia México
Tradução livre

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Buscador dá acesso à bibliografia científica


O trabalho de pesquisa é uma das principais etapas na produção científica. É a etapa em que se constrói a base de toda argumentação teórica. Lembrando desta responsabilidade que o pesquisador deve ter com sua tese, o professor do Departamento de Filosofia e Métodos da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Flávio Leal, teve a ideia de criar um buscador online de artigos científicos. Com pouco mais de um ano de existência, o empreendimento já é utilizado em diversos países.

O BuscadorCoruja.com permite acesso gratuito à bibliografia científica. Criado em 2015, o site já contabiliza mais de 94 mil acessos de todo o mundo. Indo além dos limites geográficos brasileiros, o uso majoritário vem de países lusófonos, ou seja, que falam a Língua Portuguesa, como os países africanos Moçambique e Guiné-Bissau.

No total são 20 países e 792 instituições de Ensino Superior pelo mundo. Segundo o criador, o segredo para o sucesso é o público não se restringir somente à comunidade acadêmica, mas também as locais.

Para acessar, você pode optar por criar um cadastro, que permite que você - além de buscar e acessar - também possa salvar as pesquisas que mais te interessam para consultas posteriores. Além disso, o aplicativo para smartphones também é uma novidade. Ele está disponível para download na Google Play (para aparelhos Android).

São mais de 3,6 milhões de teses e dissertações, 351 bibliotecas digitais, 4,5 mil revistas digitais e quase um milhão de artigos científicos disponíveis utilizando as mais variadas áreas do conhecimento. 


via Gazeta de São João del-Rei