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quarta-feira, 9 de maio de 2018
Internet será inundada com trabalhos protegidos há décadas por direitos autorais em 2019
Chaplin em “Pastor de Almas”, e o cartaz do filme || Créditos: Getty Images
Pela primeira vez em mais de duas décadas, uma quantidade sem precedentes de filmes, músicas e outros trabalhos artísticos publicados há quase 100 anos se tornará domínio público nos Estados Unidos e no resto do mundo. A liberação está marcada para o dia 1º de janeiro de 2019, e inclui clássicos da telona como “Pastor de Almas”, o filme mudo lançado em 1923 por Charles Chaplin, e “Os Dez Mandamentos”, o longa de 1956 dirigido por Cecil B. DeMille e estrelado por Charlton Heston.
Há ainda composições da dupla Bela Bartok e Aldous Huxley e todos os seis volumes da coletânea “The World Crisis”, um relato em primeira pessoa sobre a primeira Guerra Mundial escrito por Winston Churchill, além do texto completo do musical “London Calling!”, de Noël Coward, e vários contos de P.G. Wodehouse. Tudo faz parte de um movimento que começou a tomar forma nos EUA em 1886.
Pioneiro em questões de direito autoral no cenário global, o país trata o tema com a devida importância desde aqueles tempos, e a partir de 1922 várias instituições públicas de lá passaram a incluir em seus acervos trabalhos relevantes de autores que os cederam depois da morte. Isso geralmente ocorre em intervalos de dez a 50 anos, mas desde 1998 não acontecia algo parecido e e uma escala tão grande.
A maior parte do conteúdo será disponibilizada na biblioteca virtual Google Books, e engenheiros do site de busca trabalham desde já na digitalização de tudo. Novas leis aprovadas mundialmente nos últimos anos deverão tornar esse tipo de “democratização artística” cada vez mais comum. A propósito, o curta de 1928 “Steamboat Willie”, estrelado por Mickey Mouse e há anos alvo de disputas da Disney para protegê-lo, tem tudo pra ser finalmente liberado no começo de 2024.
Anderson Antunes | /Glamurama
segunda-feira, 16 de abril de 2018
Relatório da IFLA sobre os desafios ao direito à privacidade na era digital
Em resposta a um pedido de provas sobre o direito à privacidade na era digital das Nações Unidas sobre privacidade, a IFLA (Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias) respondeu enfatizando a importância da privacidade para a liberdade intelectual e o papel que as bibliotecas podem desempenhar na obtenção de deste objetivo. O relatório destaca o valioso papel que as bibliotecas podem desempenhar na promoção e proteção do direito à privacidade na era digital.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Para especialistas, reproduzir obras antigas na web não fere direitos do autor
Por Marcelo Galli | Conjur
O Brasil precisa discutir a criação de uma nova legislação que permita a reprodução de revistas, jornais e livros antigos, que são em papel, em acervos digitais na internet, como hemerotecas, sem violar o direito autoral dos colaboradores das publicações e seus editores. Essa é a opinião de especialistas que participaram de um evento na terça-feira (9/8) que discutiu a liberdade de expressão na web, promovido pelo Google e pela editora Abril, na sede do Instituto Brasiliense de Direito, em Brasília.
Ministro Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, defende a reprodução de obras antigas na internet.
Para o ministro Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, deve ser cogitada a possibilidade desse uso novo das publicações em digitalizações na web. Ele comentou decisão recente do STJ no sentido de que essa divulgação não era permitida porque o contrato garantia o direito do autor da obra. Na ocasião, a 3ª Turma do tribunal reconheceu que houve violação dos direitos autorais do escritor, jornalista e chargista Millôr Fernandes, morto em 2012, pela publicação de seus textos em acervo digital da revista Veja.
O ministro conta que naquele julgamento lembrou do projeto do Google de fazer uma biblioteca digital universal, mas que a empresa desistiu da empreitada por impossibilidade desse tipo de republicação na maior parte dos ordenamentos jurídicos. Segundo ele, houve discussões sobre o projeto na Europa e nos Estados Unidos que apontavam para a tese de que a disponibilização em um acervo digital violava alguns direitos de autor, “apesar de o usuário da internet, de um bibliófilo, por exemplo, se ver cerceado do seu direito de acessar aquele conteúdo em forma digital”.
Na opinião do advogado Eduardo Mendonça, o assunto deve ser rediscutido “em um futuro próximo” pelo fato da aproximação de finalidade entre esses acervos digitais e as bibliotecas convencionais como repositórios de conhecimento. Ele conta que assistiu ao julgamento do caso envolvendo a obra do Millôr Fernandes e relembra do que foi dito pelo relator, ministro João Otávio de Noronha, dizendo que não gostava da solução, mas se via a entender daquele jeito porque a lei assim determinava. “É uma posição que nos deixa desconfortáveis porque poda o potencial da internet de ser um repositório amplo e acessível de conteúdo que a humanidade produziu. Acho que esse tema ainda vai dar bastante ‘pano pra manga’”, disse o advogado, durante o evento.
O Brasil precisa discutir a criação de uma nova legislação que permita a reprodução de revistas, jornais e livros antigos, que são em papel, em acervos digitais na internet, como hemerotecas, sem violar o direito autoral dos colaboradores das publicações e seus editores. Essa é a opinião de especialistas que participaram de um evento na terça-feira (9/8) que discutiu a liberdade de expressão na web, promovido pelo Google e pela editora Abril, na sede do Instituto Brasiliense de Direito, em Brasília.
Ministro Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, defende a reprodução de obras antigas na internet.
Para o ministro Villas Bôas Cueva, do Superior Tribunal de Justiça, deve ser cogitada a possibilidade desse uso novo das publicações em digitalizações na web. Ele comentou decisão recente do STJ no sentido de que essa divulgação não era permitida porque o contrato garantia o direito do autor da obra. Na ocasião, a 3ª Turma do tribunal reconheceu que houve violação dos direitos autorais do escritor, jornalista e chargista Millôr Fernandes, morto em 2012, pela publicação de seus textos em acervo digital da revista Veja.
O ministro conta que naquele julgamento lembrou do projeto do Google de fazer uma biblioteca digital universal, mas que a empresa desistiu da empreitada por impossibilidade desse tipo de republicação na maior parte dos ordenamentos jurídicos. Segundo ele, houve discussões sobre o projeto na Europa e nos Estados Unidos que apontavam para a tese de que a disponibilização em um acervo digital violava alguns direitos de autor, “apesar de o usuário da internet, de um bibliófilo, por exemplo, se ver cerceado do seu direito de acessar aquele conteúdo em forma digital”.
Na opinião do advogado Eduardo Mendonça, o assunto deve ser rediscutido “em um futuro próximo” pelo fato da aproximação de finalidade entre esses acervos digitais e as bibliotecas convencionais como repositórios de conhecimento. Ele conta que assistiu ao julgamento do caso envolvendo a obra do Millôr Fernandes e relembra do que foi dito pelo relator, ministro João Otávio de Noronha, dizendo que não gostava da solução, mas se via a entender daquele jeito porque a lei assim determinava. “É uma posição que nos deixa desconfortáveis porque poda o potencial da internet de ser um repositório amplo e acessível de conteúdo que a humanidade produziu. Acho que esse tema ainda vai dar bastante ‘pano pra manga’”, disse o advogado, durante o evento.
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Cientista que falsificou estudo diz que jornalistas são fáceis de enganar
Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada no último domingo (9/8), o doutor em biologia molecular e jornalista americano John Bohannon disse que jornalistas são fáceis de enganar.
Bohannon conseguiu fazer vários jornais, revistas e sites de diferentes países caírem numa "pegadinha" que os levou a publicar a notícia falsa de que o chocolate poderia ser usado em dietas para emagrecimento.
Crédito:Wikimedia commons
Após pegadinha, biólogo e jornalista diz que imprensa não checa informações
Depois de revelar a armadilha, ele explicou que sua intenção era mostrar que mesmo na imprensa especializada há problemas com a ausência de critérios adequados para verificar e apurar uma informação.
"Quem tem de levar a culpa são os editores. Eles é que precisam impor que o jornalismo seja feito da forma tradicional: verificando informações e conversando com várias fontes", declarou o biólogo americano.
De acordo com ele, nenhum jornalista que o contatou para tratar da pesquisa o questionou sobre estatística ou desenho experimental. O nome do instituto utilizado para divulgar o estudo também era falso: "Institute of Diet and Health" (Instituto de Dieta e Saúde, supostamente localizado em Mainz, na Alemanha). Além disso, o americano criou um site para dar mais credibilidade e assinou como Johannes.
Após a publicação, ele divulgou um comunicado à imprensa com a pesquisa. O cientista contabilizou 157 periódicos (61,6% dos 255) que confirmaram a aceitação do estudo. O resultado, segundo ele, indica que na maior parte das aceitações praticamente não houve nenhum sinal de revisão.
via Portal Imprensa
Bohannon conseguiu fazer vários jornais, revistas e sites de diferentes países caírem numa "pegadinha" que os levou a publicar a notícia falsa de que o chocolate poderia ser usado em dietas para emagrecimento.
Crédito:Wikimedia commons
Após pegadinha, biólogo e jornalista diz que imprensa não checa informações
Depois de revelar a armadilha, ele explicou que sua intenção era mostrar que mesmo na imprensa especializada há problemas com a ausência de critérios adequados para verificar e apurar uma informação.
"Quem tem de levar a culpa são os editores. Eles é que precisam impor que o jornalismo seja feito da forma tradicional: verificando informações e conversando com várias fontes", declarou o biólogo americano.
De acordo com ele, nenhum jornalista que o contatou para tratar da pesquisa o questionou sobre estatística ou desenho experimental. O nome do instituto utilizado para divulgar o estudo também era falso: "Institute of Diet and Health" (Instituto de Dieta e Saúde, supostamente localizado em Mainz, na Alemanha). Além disso, o americano criou um site para dar mais credibilidade e assinou como Johannes.
Após a publicação, ele divulgou um comunicado à imprensa com a pesquisa. O cientista contabilizou 157 periódicos (61,6% dos 255) que confirmaram a aceitação do estudo. O resultado, segundo ele, indica que na maior parte das aceitações praticamente não houve nenhum sinal de revisão.
via Portal Imprensa
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Fontes Primárias sobre direitos autorais, 1450-1900
As fontes primárias sobre direitos autorais (Primary Sources on Copyright) (1450-1900) é um arquivo digital de fontes primárias sobre direitos de autor desde a invenção da imprensa (cerca de 1450), da Convenção de Berna (1886). O material vem de Itália, França, os países de língua alemã, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Espanha e Países Baixos.
Os documentos estão disponíveis em versão digitalizada, em alta definição. Cada página pode ser baixada separadamente em formato JPEG, ou todo o documento em formato PDF.
Os documentos podem ser navegados de diferentes maneiras: por data, local, palavra-chave, editor, autor, lugares, instituições, legislação, jurisprudência, língua original (Inglês, italiano, alemão, francês, espanhol, latim), ou do país a que se refere.
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
A informação não quer ser grátis
Imagine que você comprou uma máquina de lavar louça com desconto na Black Friday. Quando consultou o manual, descobriu que só pode lavar ali louças e talheres da mesma marca do fabricante da máquina. Ia exigir seu dinheiro de volta. Mas nenhum de nós liga para o Disque Denúncia quando descobre que as cinco mil canções compradas no iTunes não podem ser ouvidas num tablet que acaba de sair com nova tecnologia.
Você teria um choque se alguém entrasse na sua casa e confiscasse o diário de sua filha por estar recheado de fotos e ilustrações do Harry Potter. Mas o diário da sua filha hoje pode ser um canal no YouTube, cuja tecnologia de take down remove automaticamente qualquer imagem protegida no atual sistema de copyright. Se o estúdio Universal decidisse construir um parque temático com os personagens de Harry Potter, faria sentido ser interpelado pelo estúdio Warner, dono dos direitos dos filmes. Seria uma flagrante violação do direito autoral de J. K. Rowling. Mas qual o prejuízo à autora se a adolescente apaixonada por Potter inserir sua imagem num diário digital para compartilhar com amigas?
Tenho um amigo que guarda em sua casa em Long Island sua coleção da New York Review of Books, desde o primeiro exemplar, em 1963. Eu não tenho a mesma coleção e, se suspender minha assinatura, perco acesso aos exemplares digitais que já havia comprado.
É difícil discutir o assunto de direitos autorais sem cair em duas valas comuns, a favor ou contra o copyright. Um novo livro defende a ideia de que, se a tecnologia for mais encarada como um fato e não um problema, os maiores interessados na cultura - os criadores e seu público - seriam os beneficiados. Information Doesn't Want to be Free: Laws for the Internet Age (A Informação Não Quer ser Grátis: Leis para a Era da Internet), de Cory Doctorw, trata das batalhas de copyright e da viabilidade do sustento de artistas. Doctorow é um bem sucedido autor de romances de ficção científica, ativista da era digital e fundador do site Boeing Boeing. Ele esteve no Brasil em 2012, falando sobre livros digitais na Festa Literária Internacional de Pernambuco, a Fliporto. Na ocasião, Doctorow contou que seu último romance não ia sair em e-book no Brasil porque nenhuma editora concordava em publicar o livro sem DRM Digital Rights Management, a tranca protetora de copyright embedada na maioria da mídia digital que consumimos.
Ele quer ser roubado? Quer que seu livro seja copiado de graça? Não, Doctorow defende moderação na legislação sobre direitos autorais, que hoje concentra enorme poder nas plataformas, nos gadgets. Quanto mais as editoras trancam seu conteúdo com DRM, escreve, mais as plataformas, no caso, a Amazon, controlam o mercado editorial.
Teoricamente um americano pode sofrer mais nas mãos da justiça por tentar baixar um aplicativo não autorizado pela Apple no iPhone do que se furtar uma revista do jornaleiro. É um status quo que não resolve o problema da violação de direitos. Nossos pais não copiavam seus discos de 78 rotações porque temiam uma lei que desconheciam, mas porque não tinham recursos para fazer a cópia. A tecnologia de cópia avança de maneira virulenta junto com o avanço das leis que criminalizam o consumo privado de conteúdo cultural.
As trancas de DRM, diz o autor, já podem ser arrombadas, devem acabar tendo a eficácia de um ritual contra mau olhado. E se a Amazon ou a Apple podem tomar a chave da nossa biblioteca ou discoteca e tudo o que passamos anos acumulando com amor se evapora, não somos donos do que compramos. Doctorow propõe que haja uma distinção entre a atividade em escala industrial, para obter lucro, e o que ele chama de "atividade cultural", como no caso da garota que copia e cola imagens de Harry Potter em seu diário digital.
Imagem: Divulgação
Você teria um choque se alguém entrasse na sua casa e confiscasse o diário de sua filha por estar recheado de fotos e ilustrações do Harry Potter. Mas o diário da sua filha hoje pode ser um canal no YouTube, cuja tecnologia de take down remove automaticamente qualquer imagem protegida no atual sistema de copyright. Se o estúdio Universal decidisse construir um parque temático com os personagens de Harry Potter, faria sentido ser interpelado pelo estúdio Warner, dono dos direitos dos filmes. Seria uma flagrante violação do direito autoral de J. K. Rowling. Mas qual o prejuízo à autora se a adolescente apaixonada por Potter inserir sua imagem num diário digital para compartilhar com amigas?
Tenho um amigo que guarda em sua casa em Long Island sua coleção da New York Review of Books, desde o primeiro exemplar, em 1963. Eu não tenho a mesma coleção e, se suspender minha assinatura, perco acesso aos exemplares digitais que já havia comprado.
É difícil discutir o assunto de direitos autorais sem cair em duas valas comuns, a favor ou contra o copyright. Um novo livro defende a ideia de que, se a tecnologia for mais encarada como um fato e não um problema, os maiores interessados na cultura - os criadores e seu público - seriam os beneficiados. Information Doesn't Want to be Free: Laws for the Internet Age (A Informação Não Quer ser Grátis: Leis para a Era da Internet), de Cory Doctorw, trata das batalhas de copyright e da viabilidade do sustento de artistas. Doctorow é um bem sucedido autor de romances de ficção científica, ativista da era digital e fundador do site Boeing Boeing. Ele esteve no Brasil em 2012, falando sobre livros digitais na Festa Literária Internacional de Pernambuco, a Fliporto. Na ocasião, Doctorow contou que seu último romance não ia sair em e-book no Brasil porque nenhuma editora concordava em publicar o livro sem DRM Digital Rights Management, a tranca protetora de copyright embedada na maioria da mídia digital que consumimos.
Ele quer ser roubado? Quer que seu livro seja copiado de graça? Não, Doctorow defende moderação na legislação sobre direitos autorais, que hoje concentra enorme poder nas plataformas, nos gadgets. Quanto mais as editoras trancam seu conteúdo com DRM, escreve, mais as plataformas, no caso, a Amazon, controlam o mercado editorial.
Teoricamente um americano pode sofrer mais nas mãos da justiça por tentar baixar um aplicativo não autorizado pela Apple no iPhone do que se furtar uma revista do jornaleiro. É um status quo que não resolve o problema da violação de direitos. Nossos pais não copiavam seus discos de 78 rotações porque temiam uma lei que desconheciam, mas porque não tinham recursos para fazer a cópia. A tecnologia de cópia avança de maneira virulenta junto com o avanço das leis que criminalizam o consumo privado de conteúdo cultural.
As trancas de DRM, diz o autor, já podem ser arrombadas, devem acabar tendo a eficácia de um ritual contra mau olhado. E se a Amazon ou a Apple podem tomar a chave da nossa biblioteca ou discoteca e tudo o que passamos anos acumulando com amor se evapora, não somos donos do que compramos. Doctorow propõe que haja uma distinção entre a atividade em escala industrial, para obter lucro, e o que ele chama de "atividade cultural", como no caso da garota que copia e cola imagens de Harry Potter em seu diário digital.
Imagem: Divulgação
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Pirataria na mira: editoras descobrem novo site com livros
DIGITAL
Pirataria na mira: editoras descobrem novo site com livros
Maria Fernanda Rodrigues | Estadão
Imagem: Internet
Às vésperas do segundo aniversário (pelo que dizem na apresentação), só agora o site Le Livros começa a ser descoberto por editoras brasileiras. Ali, podem ser lidos ou baixados (epub, mobi e pdf) mais de 3 mil livros em português, incluindo os lançamentos O Irmão Alemão, de Chico Buarque; Eternidade Por Um Fio, de Ken Follett; e O Capital no Século 21, de Thomas Piketty. Sem pagar nada. É o site mais profissional já criado em português para esse fim polêmico - a discussão pirataria X acesso à cultura é antiga. Há dois meses, a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos recebeu a primeira denúncia de um autor. Uma ou outra editora também reclamou. A Record, por exemplo, só tomou conhecimento na quinta, pelo Estado. O passo agora é descobrir os responsáveis e tomar providencias jurídicas - para a tristeza dos mais de 400 mil seguidores no Facebook (muitos dos quais profissionais do mercado editorial e escritores).
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Buscador de plágio em Acesso Aberto
O objetivo do Open Access Plagiarism Search (OAPS) é a detecção e prevenção de plágio de textos em educação e pesquisa, oferece um novo serviço que é capaz de encontrar semelhanças entre certos documentos de texto e documentos disponíveis em Acesso Aberto.
A pesquisa de plágio é baseado no Índice de Pesquisa OAPS que atualmente contém cerca de 12 milhões de documentos. Para usar o serviço é necessário criar uma conta gratuitamente. Quando se está logado, é possível enviar documentos de texto para o OAPS realizar a verificação de plágio. Interface em inglês e alemão.
domingo, 25 de agosto de 2013
Escritor best-seller luta contra Google, Apple e Amazon
Leia a matéria completa na Folha de S. Paulo
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Plágio e Integridade Acadêmica
Acadêmicos do Brasil estão convidados a discutir a prevenção e a detecção de plágio em dois eventos gratuitos no final deste mês.
Os seminários, que serão realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos dias 27 e 29 de agosto respectivamente, trarão novidades referentes à pesquisa sobre ética e integridade em trabalhos acadêmicos.
Os eventos foram organizados pela iniciativa britânica PlagiarismAdvice.org, que é patrocinada pela Turnitin, líder mundial em softwares de prevenção de plágio e verificação de originalidade.
Uma pesquisa recente conduzida pela PlagiarismAdvice.org revelou que mais de três quartos dos estudantes universitários brasileiros acreditam que os professores não seriam capazes de identificar casos de plágio nos seus trabalhos.
Veja abaixo o programa destes dois eventos presenciais
Rio de Janeiro:
Terça-feira, 27 de Agosto 2013, das 13:30 às 17:30, Auditório Hélio Fraga - CCS/UFRJ - BL. K - 2º andar , Campus do Fundão
- EAD E O PLÁGIO: RECONFIGURAÇÕES ÉTICAS - Jussara Bueno de Queiroz Paschoalino - Doutora em Educação Universidade Federal de Minas Gerais & Beatriz Falcão / Doutora em Educação - Universidade Federal de Minas Gerais.
- Plagiarism at University: Somebody Else's Problem? - Miguel Roig / Professor of Psychology - St John's University
- O Plágio nas Ciências e nas Humanidades: Uma Ameaça à Criatividade? / Sonia Maria Ramos de Vasconcelos - Doutora em Educação, Gestão e Difusão em Ciências / Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Atualidades e tendências no enfrentamento do plágio acadêmico / Marcelo Krokoscz / Doutorando em Educação & Mestre em Educação / Universidade de São Paulo
- Enfrentando plágio Acadêmico no Reino Unido - 10 anos depois / Gill Rowell / PlagiarismAdvice.org (apresentado por Alice Lupton, iParadigms LLC)
São Paulo:
Quinta-feira, 29 de Agosto 2013, das 13:30 às 17:30, FECAP, Auditório 131, bloco C, Av. Liberdade, 532 - Bairro Liberdade
- EAD E O PLÁGIO: RECONFIGURAÇÕES ÉTICAS / Jussara Bueno de Queiroz Paschoalino - Doutora em Educação Universidade Federal de Minas Gerais & Beatriz Falcão - Doutora em Educação - Universidade Federal de Minas Gerais.
- Enfrentando plágio Acadêmico no Reino Unido - 10 anos depois / Gill Rowell / Mestres em PlagiarismAdvice.org (apresentado por Alice Lupton, iParadigms LLC)
- Atualidades e tendências no enfrentamento do plágio acadêmico / Marcelo Krokoscz / Doutorando em Educação & Mestre em Educação - Universidade de São Paulo
- Reflexões sobre os Valores Acadêmicos que Sustentam a Ideia de que Plágio é Má Conduta / Fredric M. Litto - Professor Emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Os eventos serão realizados no Rio de Janeiro na terça-feira, 27 de agosto de 2013, das 13:30 às 17:30, no Auditório Hélio Fraga - CCS/UFRJ - BL. K - 2º andar , Campus do Fundão, e em São Paulo na Quinta-feira, 29 de Agosto 2013, das 13:30 às 17:30, FECAP, Auditório 131, bloco C, Av. Liberdade, 532 - Bairro Liberdade
Para mais informações e para se inscrever, visite http://plagbras2013.eventbrite.com/
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Os sistemas de proteção de direito digital (DRM): tecnologias e tendências para e-books
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 18, n. 36, p.203-230, jan./abr., 2013
Adriane Ianzen, José Simão de Paula Pinto, Egon Walter Wildauer
Resumo
Resultado de um estudo exploratório este artigo apresenta uma discussão acerca do uso de sistemas de gerenciamento de direitos autorais em arquivos digitais, focando sua aplicação em e-books. Apresenta-se o cenário dos e-books, sua conceituação, a base legal autoral, o direito digital, para então adentrar na tecnologia que provê o desenvolvimento dos sistemas de DRM. Alguns tipos de DRM são expostos, bem como sua arquitetura básica e componentes mínimos necessários são apresentados. Ao final, apresentam-se considerações de que há a necessidade de nova postura dos agentes envolvidos para uma real evolução do setor.
Clique aqui para o texto completo [PDF / 28 p.]
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
A síndrome do "copia e cola"
A dificuldade de identificar a autoria de textos e ideias em tempos de "Ctrl-c, Ctrl-v"
Por Edgard Murano | Revista Língua
Foram 13 anos até que o Superior Tribunal de Justiça concedesse ganho de causa à rede Globo num processo por plágio.
A escritora de livros infantis Eliane Ganem alegava que a minissérie global Aquarela do Brasil, escrita por Lauro Cesar Muniz, usava um argumento seu, que ela diz ter submetido a outras emissoras na época. Muniz afirmou em sua defesa que o mote principal da série - o da personagem que se torna famosa - era uma ideia banal, que carecia de ineditismo.
Apesar da vitória da emissora, o caso ganha ambiguidade pelo simples fato de Eliane ter registrado a obra na Biblioteca Nacional em 1996 com o mesmo nome da minissérie, que foi ao ar quatro anos depois. Em 2008, a Justiça já havia ordenado o pagamento de uma indenização de R$ 100 mil à autora. Mas agora, com a decisão da 4ª Turma do STJ, a ação foi definitivamente encerrada.
Rede
O que disputas como essa parecem evidenciar, para além das reviravoltas jurídicas, é a delicada questão da autoria. O que caracteriza uma ideia original? Numa seara como a da propriedade intelectual, em que a materialidade das provas às vezes é tão palpável quanto fumaça, a velha pergunta sobre o que é novo volta revigorada a cada escândalo de plágio. A complexidade dos casos acaba colocando em xeque o próprio conceito de originalidade.
A internet facilitou o manuseio da informação. Seus mecanismos automatizaram nossa relação com o texto. Sinal disso é a popularidade da expressão "Ctrl-c, Ctrl-v", comando equivalente a "copiar e colar" em navegadores e processadores de texto, emblema de uma geração que pouco digere do material que encontra na internet, reproduzindo-o como se fosse seu.
Outro sintoma alarmante da banalização do plágio também se encontra no ambiente universitário e acadêmico, cuja credibilidade vem sendo solapada por denúncias de apropriações não creditadas de teses e artigos acadêmicos.
Espírito
No jornalismo, o plágio também já fez suas vítimas: nos EUA, o jornalista e escritor Fareed Zakaria foi suspenso pela revista Time por se apropriar de trechos de um artigo da New Yorker em 2012.
Nem a literatura escapou desse fantasma no episódio, agora célebre, que envolveu Max e os Felinos (1981), de Moacyr Scliar, e A Vida de Pi (2001), de Yan Martel.
- Até onde possa me lembrar, nunca fui vítima de plágio. Até porque em literatura isso é muito complexo. Os temas são eternos e nós todos circulamos entre eles. Aqueles que procuram escrever a todo custo terminam copiando e, é claro, errando. Muitos escritores fracassam porque querem o sucesso e não o êxito. E, em literatura, só o êxito interessa - afirma o escritor Raimundo Carrero, autor de Tangolomango (Record).
O sucesso, no entanto, parece ter vindo acompanhado também pelo êxito no caso do escritor canadense Yan Martel. Vencedor do Booker Prize 2002 com o romance A Vida de Pi, adaptado em 2012 para os cinemas por Ang Lee, Martel não só assume ter se inspirado na premissa de Max e os Felinos como se gabou de ter aproveitado melhor a história do menino preso num barco com um tigre.
As semelhanças entre as obras foram notadas pela primeira vez pelo jornal inglês The Guardian, à época do lançamento do livro de Martel, que, pressionado pela imprensa, contra-atacou: "Será que haveria o mesmo escândalo se eu dissesse que me inspirei na arca de Noé?".
Mais tarde, Martel e Scliar entrariam em acordo amigável, intermediado por Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, que passaria a editar o escritor gaúcho.
O que parece estar em jogo na provocação do escritor canadense, no entanto, é o fato de que certas ideias não são exclusivas de uma cabeça, mas pertencem a uma narrativa maior, de domínio coletivo, podendo ser retrabalhadas por vários autores em tempos diferentes e de formas diversas. O que não exclui o fato de que as similaridades entre as obras de Martel e Scliar são muito mais concretas e específicas do que a metáfora genérica da arca de Noé.
No caso da minissérie global Aquarela do Brasil, o resultado da perícia atestou que tanto a ideia de Lauro Cesar Muniz quanto a de Eliane Ganem eram inéditas, sem semelhanças suficientes que configurassem plágio. É como se as duas ideias, na verdade uma só, tivessem nascido pelas mãos de autores diferentes separados no tempo e no espaço, resultado de algum espírito de época [Zeitgeist, em alemão] ou sob inspiração de algum elemento cultural recorrente.
Em outras palavras, a trajetória de uma cantora que sai da pobreza para o estrelato, posto dessa maneira, não chega a ser novidade, ainda que a "coincidência" entre os nomes das tramas de Muniz e Eliane nos deixe com a pulga atrás da orelha.
"Não é possível deter direitos sobre temas", afirmou o ministro e relator do processo Luis Felipe Salomão, que por sua vez citou em sua decisão o doutrinador Hermano Duval, para quem ideia e forma de expressão são coisas independentes.
Em Direitos Autorais nas Invenções Modernas (1956), obra de referência nos estudos sobre propriedade intelectual, Duval afirma que uma ideia "não pertence exclusivamente aos autores das obras em conflito, pertence a um patrimônio comum da humanidade".
Se no conteúdo as evidências de plágio tendem a ser vagas, passíveis de reformulações e subterfúgios de estilo, na expressão a forma com frequência denuncia o decalque.
Com estilo
O escritor francês Michel Houellebecq que o diga. Em 2010, foi acusado de plágio pelo site Slate, que descobriu trechos inteiros de verbetes da Wikipédia francesa reproduzidos no romance O Mapa e o Território (Record).
Houellebecq, obviamente, negou as acusações, as quais considerou "rídiculas". Mas sua inocência deve-se antes ao gesto deliberado de reproduzir os trechos do que ao crime de falsa autoria. "Se as pessoas de fato pensam isso, então elas não têm a menor noção do que é literatura. Isso faz parte do meu método", rebateu.
A premissa de Houellebecq, fundamentada no uso estilístico do plágio, mostra-se afinada com as vanguardas literárias mais recentes, cujos experimentos com a matéria verbal partem de princípios como reorganização, reciclagem, reapropriação e até mesmo plágio deliberado.
Não por acaso, o escritor Kenneth Goldsmith, editor do site UbuWeb - dedicado à literatura conceitual - pegou emprestado o termo "unoriginal" [algo como "desoriginal"] da crítica literária Marjorie Perloff para tecer seu artigo-manifesto It''s Not Plagiarism. In the Digital Age, It''s "Repurposing." [Não é plágio. Na era digital, é "repropósito"].
Para Goldsmith, numa época abarrotada de textos como a atual, não haveria necessidade de escrever mais. Em vez disso, ele defende a necessidade de "aprender a negociar a vasta quantidade que já existe". "Como eu abro caminho em meio a esse matagal de informação - como eu o gerencio, analiso, organizo e distribuo - é o que distingue a minha escrita da sua."
- É uma literatura em que o autor quase não escreve, e cujos métodos se assemelham à colagem dos pintores cubistas e à apropriação de objetos industriais feita por artistas como Marcel Duchamp ou Andy Warhol - explica o escritor Braulio Tavares, colunista de Língua, referindo-se ao método preconizado por Goldsmith.
Mas aquilo que as vanguardas pós-modernas passaram a tratar como colagem, reapropriação ou seja lá que nome leve, no início do século 20 já se encontrava formulado pelos primeiros modernistas, premidos pela perspectiva de que nada mais pudesse ser feito, já que tudo havia sido dito pelas gerações anteriores.
A questão da originalidade, por exemplo, foi tema central na obra de escritores como T. S. Eliot, autor de Terra Devastada, que comparou os poetas aos ladrões no ensaio "Philip Massinger", em Sacred Wood [floresta sagrada]:
"Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam; maus poetas deformam aquilo que tomam, e bons poetas fazem daquilo algo melhor, ou ao menos algo diferente".
Reapropriação
Seguindo a metáfora eliotiana, o escritor e tradutor Gabriel Perissé, de Língua, acrescenta:
- Devemos ser tão bons ladrões que ninguém perceba que fizemos com o alheio algo melhor. O plágio criativo perfeito é quando o roubo é seguido de assassinato, e nem precisamos citar a vítima, cuja alma absorvemos e cujo corpo escondemos dentro do nosso próprio texto.
Uma frase em particular, já atribuída a tantos autores no século passado a ponto de ser considerada apócrifa, dá bem a medida da relativização do conceito de originalidade em nossa época, além de ser ela própria uma "licença poética" para o plágio criativo:
"Se você rouba de um autor, é plágio; se você rouba de vários, é pesquisa".
Segundo o site Quote investigator, o primeiro registro desse enunciado é de 1932, seguido de variações que às vezes levavam em conta "livros" em vez de "autor", "novidade" em vez de "pesquisa", entre outras equivalências. Sua mensagem, porém, permaneceu intacta. Em outras palavras, reside na multiplicidade de vozes a base de uma linguagem original. E quanto menor o número de fontes de inspiração e de pesquisa, maior a chance de soar parecido com algo que já foi produzido.
Criptomnésia
Um dos casos mais conhecidos de "roubo" na literatura talvez seja o romance Lolita, de Vladimir Nabokov, publicado em 1955.
Diferentemente do que se imagina, a história do homem culto, que recorda seu caso tórrido com uma pré-adolescente, na verdade foi publicada pela primeira vez sob a forma de um conto pelo alemão Heinz von Lichberg, em 1916.
O escritor e ensaísta Jonathan Lethem relata a estranha coincidência entre essas duas narrativas no artigo "O êxtase da influência", publicado em 2007 pela Harper''s. No texto, Lethem se detém sobre a possibilidade de Nabokov ter se apoderado da trama conscientemente enquanto esteve em Berlim, em 1937.
Outra hipótese levantada pelo ensaísta é a de que um dos romances mais populares do século 20 tenha sido fruto de um fenômeno conhecido como criptomnésia, espécie de plágio "não deliberado" que ocorre quando uma memória ressurge sem que o sujeito se dê conta de sua origem, tratando-a como se fosse original.
- A criptomnésia é uma memória escondida, que não se sabe ter. O fenômeno pode ser cogitado quando o artista nega ter feito o plágio de forma intencional ou não se lembra de ter "copiado" algo - explica Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica.
Para Barros, a tese da criptomnésia, na prática, é muito difícil de ser provada, mas por ser uma tese acatada pela Justiça, pode servir como atenuante.
- Embora não se trate de uma doença, não há deliberação racional ou produção intencional - pondera.
Ainda que a modernidade tenha colocado na berlinda a questão da autoria - e os pós modernos a esgarçaram a ponto de quase aniquilar o conceito - há quem discorde dessa pulverização do autor.
Para o crítico e escritor Antonio Cicero está claro que "a morte do autor", postulada pelo teórico Roland Barthes em ensaio homônimo [ver quadro na próxima página], deve ser entendida em termos da autonomia do texto em relação ao seu produtor, e não propriamente como a insignificância deste. Em ensaio publicado na Folha de S.Paulo em 2010, Cicero questiona o conceito que influenciou gerações de estruturalistas e de estudos literários:
"Ao contrário do que Barthes pretende, não é verdade que o autor seja ''uma figura moderna'', um produto de nossa sociedade na medida em que, ao emergir da Idade Média com o empirismo inglês, o racionalismo francês e a fé pessoal da Reforma, ela descobriu o prestígio do indivíduo ou, como se diz de modo mais elevado, da ''pessoa humana''".
Cicero acrescenta que "A figura do autor é indissociável do próprio emprego da escritura e já se encontra inteiramente definida na Antiguidade clássica."
Se a segunda metade do século 20 assistiu ao declínio do autor nos círculos teóricos e acadêmicos, talvez estejamos presenciando um renascimento, neste início de século 21, do conceito de autor como uma espécie de "curador" de conteúdos e formas.
Não que seu papel tenha se restringido à mera reprodução do que já foi dito. Mas a onipresença de informações proporcionada pelas novas tecnologias de comunicação desobrigou-o da originalidade absoluta, idealizada, cabendo-lhe organizar e dialogar com outras ideias e discursos em busca de uma nova identidade, ainda que fragmentada.
Decalque da academia
Casos de plágio acadêmico ganham visibilidade na mídia
Plágio é coisa séria. Mas quando ocorre na academia, pode custar uma carreira e até depor autoridades. Em fevereiro deste 2013, a ministra da Educação alemã Annette Schavan renunciou após acusações de que teria copiado trechos de sua tese de doutorado, defendida há trinta anos na Universidade Heinrich Heine, em Düsseldorf. No ano passado, a Hungria viu seu presidente Pál Schimitt abandonar o posto pela mesma acusação.
Não há estatísticas sobre plágios no meio acadêmico, que tendem a ser resolvidos internamente, sem acionamento da Justiça. Raro um caso como o de um pesquisador da USP de Ribeirão Preto, exonerado em 2011 após ser denunciado por professores da UFRJ, que identificaram como deles as imagens usadas pelo acusado num trabalho para a Faculdade de Ciências Farmacêuticas.
Nada se compara, porém, ao "plágio em família" ocorrido em Portugal no começo de 2013, envolvendo um casal de pesquisadores: ele, um político social democrata, e ela, professora de um instituto politécnico, defenderam teses com três anos de diferença no Instituto Superior de Ciências do Trabalho, em Lisboa. Apurou-se que os mestrados de ambos apresentavam excessivas semelhanças, em temas, ideias, títulos, estilo dos parágrafos e até bibliografia.
Como criar alunos-autores sem os vícios do "copia e cola" na internet
Um roteiro de atividades para estimular a noção de autoria nos alunos e evitar o uso indiscriminado da web em trabalhos escolares
Atualmente, não é um real problema a internet disponibilizar aos estudantes um universo praticamente infinito de informações. O problema está em como os docentes e as escolas podem usar esse universo de informações ao seu favor. Criatividade, fundamentação pedagógica, técnicas didático-metodológicas inovadoras e conhecimento das novas tecnologias são fatores importantes para evitar o plágio e convidar os alunos a realizarem pesquisas genuínas. Isso pode ser obtido por meio de atividades que exijam dos estudantes atitudes, posicionamentos e reflexão, valendo-se de ferramentas alternativas de produção de pesquisa. Vejamos algumas propostas:
Uma pesquisa que envolva um "olhar" sobre dado assunto, sendo esse olhar relatado por pessoas pesquisadas, não por livros didáticos ou fontes da internet (pesquisa oral);
Um trabalho que consista em extrair da internet dois textos sobre o mesmo assunto, em que o estudante precise identificar posturas diferentes e explicar essas posturas diferentes em ambos os textos;
Atividades em que seja necessário um registro fotográfico de fenômenos que estão sendo pesquisados textualmente, tais como fenômenos físicos, químicos e biológicos. O texto pode ser de fonte virtual, mas as fotos devem ser de autoria dos estudantes, registradas em seus "cotidianos";
Produção de vídeos explicativos sobre temas pesquisados na internet. Esses vídeos devem ter roteiro, objetivos, produção e créditos. Podem ser gravados com o celular e editados na própria internet;
Uma pesquisa sobre o tema baseada em imagens, não em textos, onde cada uma delas deva ser explicada por um estudante do grupo, de forma textual ou oral;
Solicitar aos alunos que façam pesquisas sobre um dado tema, e toda a fonte de produção da avaliação escrita seria extraída dos textos entregues pelos alunos. Isso forçaria aos estudantes, mesmo aqueles que plagiaram, a estudar o que foi copiado para realizar a avaliação.
Juliano Costa é gerente pedagógico do
Sistema de Ensino COC/Pearson
Caçadores de cópias
A tecnologia a serviço da detecção de plágios na rede
Longe de ser vilã da era moderna, a internet ampliou nossa consciência da linguagem ao democratizar o conhecimento, e se por um lado facilitou decalques em série, por outro ajudou na detecção deles por meio do cruzamento de dados. Basta digitar uma frase conhecida em mecanismos de busca como Google e Bing, por exemplo, para descobrir as mais variadas ocorrências de uma expressão na rede, com resultados que vão desde trivialidades creditadas erroneamente a escritores famosos até plágios os mais descarados.
- Há alguns anos, quando um aluno me apresentou uma conclusão de produção impressa, digitei uma frase aleatória na ferramenta de busca do Google e encontrei o texto na íntegra, mais de uma vez replicado em sites e blogs. Ao ser questionado, ele afirmou ser de sua autoria. Com 14 anos, já tinha consciência do que estava fazendo. O aluno foi advertido - relata a assessora pedagógica Maria Cristina Lindstron, que possui mais de 20 anos de experiência com o ensino fundamental e médio.
Ao que parece, no "vale-tudo" da blogosfera e das redes sociais, em que retuítes, citações e compartilhamentos de conteúdos alheios são parte indissociável da atividade dos internautas, a autoria é quase um detalhe, uma nota de rodapé sem muita importância. É nesse contexto que professores e educadores devem manter-se antenados nas novas tecnologias, sendo capazes usá-las a seu favor no combate ao plágio.
Fruto da necessidade acadêmica de atestar a originalidade de trabalhos de pesquisa, algumas ferramentas foram desenvolvidas especificamente para detectar o plágio de textos. Uma delas, o Plagius [www.plagius.com.br], trabalha com diversos formatos de arquivo (doc, pdf, rtf, etc.), fornecendo relatórios detalhados sobre ocorrências semelhantes na internet e suspeitas de decalque. O Farejador de plágio [www.farejadordeplagio.com.br], por sua vez, também vasculha a internet atrás de plágios do arquivo-alvo, pesquisando inclusive "trechos saltados" em obras para serem analisados posteriormente.
Considerando que nem tudo o que se produz na academia está disponível para consulta na internet, os resultados obtidos por esses aplicativos não são de todo confiáveis - o que, evidentemente, não lhes tira o mérito.
Não gosto de plágio
Blog reúne denúncias na área de tradução
Bom exemplo de utilidade pública, para defender a propriedade intelectual por meio da blogosfera, encontra-se no campo da tradução. O blog Não gosto de plágio [http://naogostodeplagio.blogspot.com.br/], da tradutora Denise Bottmann, é uma referência na defesa dos direitos autorais de tradutores, muitas vezes nem creditados nas obras.
O blog foi criado em 30 de setembro de 2008 (dia do tradutor) em meio a uma onda de denúncias de plágio de traduções. Entre as principais irregularidades, destacam-se as edições piratas feitas a partir de trechos e elementos de traduções anteriores. Tudo sem pagar nem dar crédito aos reais tradutores-autores.
- Creio que o trabalho sistemático de cotejos e apontamentos no Não gosto de plágio acabou mostrando que a prática era muito mais disseminada do que se imaginava, e ganhou grande repercussão. Considero que o blog atingiu grande parte de seus objetivos, conseguindo a retirada de muitos títulos do mercado e, se não a extinção, ao menos uma visível diminuição desses procedimentos ilícitos - afirma Denise.
O blog apresentou cerca de 150 cotejos de obras espúrias, além de ter denunciado outras irregularidades, como a inscrição de fraudes no Programa Nacional do Livro de Baixo Preço, do Minc/FBN. O blog encaminhou mais de dez pedidos de representação junto ao Ministério Público para coibir essas práticas.
O tecido das citações
Um trecho de "A morte do autor", de Roland Barthes
"Sabemos agora que um texto não é feito de uma linha de palavras, libertando um sentido único, de certo modo teológico (que seria a ''mensagem'' do Autor-Deus), mas um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escritas variadas, nenhuma das quais é original: o texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura. Parecido com Bouvard e Pécuchet [personagens de Gustave Flaubert], esses eternos copistas, ao mesmo tempo sublimes e cômicos, e cujo profundo ridículo designa precisamente a verdade da escrita, o escritor não pode deixar de imitar um gesto sempre anterior, nunca original; o seu único poder é o de misturar as escritas, de as contrariar umas às outras, de modo a nunca se apoiar numa delas; se quisesse exprimir-se, pelo menos deveria saber que a ''coisa'' interior que tem a pretensão de ''traduzir'' não passa de um dicionário totalmente composto, cujas palavras só podem explicar-se através de outras palavras, e isso indefinidamente: aventura que adveio exemplarmente ao jovem Thomas de Quincey, tão bom em grego que, para traduzir para esta língua morta ideias e imagens absolutamente modernas, diz-nos Baudelaire, ''tinha criado para si um dicionário sempre pronto, muito mais complexo e extenso do que aquele que resulta da vulgar paciência dos temas puramente literários'' (Os Paraísos Artificiais); sucedendo ao Autor, o scriptor não tem já em si paixões, humores, sentimentos, impressões, mas sim esse imenso dicionário onde vai buscar uma escrita que não pode conhecer nenhuma paragem: a vida nunca faz mais do que imitar o livro, e esse livro não é ele próprio senão um tecido de signos, imitação perdida, infinitamente recuada."
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Fraudes, erros e enganos
Bocca della Verità, a população romana acreditava que a boca se fecharia destruindo a mão de quem declarasse uma mentira
FRAUDE é o tema do Dossiê da Revista ComCiência, número 147
EDITORIAL
Fraudes, erros e enganos
Carlos Vogt
ARTIGOS
Ética na avaliação dos cientistas
José Daniel Figueroa Villar
Fraude e integridade na pesquisa
José Roberto Goldim
Do plágio à publicidade disfarçada: brechas da fraude e do antiético na comunicação científica
Marcelo Sabbatini
Os sentidos de fraude, erro e engano
Eduardo Guimarães
REPORTAGENS
Os resultados que não interessam ser publicados
Fraudes e enganos na história da ciência
Picaretices e malandragens: o uso da mentira na literatura
Varrendo por baixo do tapete da pesquisa científica
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Antigua é o primeiro país a legalizar pirataria
País criará site com conteúdo norte-americano disponibilizado gratuitamente
Olhar Digital
As ilhas caribenhas de Antigua & Barbuda são o primeiro país a legalizar a pirataria. A ação foi permitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em uma disputa que já acontece há mais de cinco anos.
A autorização foi concedida em Genova e é referente ao conteúdo norte-americano. Com isso, a ideia do governo é criar um portal que ofereça músicas, filmes e outros conteúdos de entretenimento gratuitamente.
Antigua argumenta que os EUA causaram enormes prejuízos em sua economia ao devastar a indústria de jogos de azar com práticas não-competitivas e anos de negociações sem resultados.
“As ações agressivas para encerrar a indústria de jogos de azar fizeram com que milhares de cidadãos perdessem bons empregos e as operadoras de jogos tivessem bilhões de dólares apreendidos pelo governo norte americano”, disse Harold Lovell, ministro da fazenda de Antigua, ao TorrentFreak.
Em resposta, os EUA ameaçou: “Pirataria autorizada pelo governo deve minar as chances de chegar a um acordo que forneça reais benefícios para Antigua. Também deverá funcionar como um obstáculo para investimentos estrangeiros na economia do país, principalmente nas indústrias de tecnologia de ponta”.
A decisão da OMC concede ao governo local plena autorização de distribuição gratuita de conteúdo norte-americano e não considera a ação como ataque aos direitos autorais.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
PlagSpotter: buscador de conteúdo duplicado
Startup baseada na Ucrânia, o PlagSpotter é uma ferramenta online verificadora de conteúdo duplicado.
A ferramenta em sua versão beta, encontra imediatamente cópias de páginas web, verifica, detecta e monitora automaticamente, as páginas com conteúdo duplicado.
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Faculdades se blindam contra plágio
Aumento do plágio na academia preocupa pesquisadores
Indústria de trabalhos escolares prontos fatura alto com plágio
Melhores ferramentas gratuitas para detectar plágio online
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Livro ‘Copyfight’ discute propriedade intelectual e pirataria na era digital
Lançamento será nesta terça-feira (18), no Rio. Publicação reúne reflexões de autores brasileiros e estrangeiros sobre o tema.
Globo News
Discussões sobre direito autoral, pirataria e propriedade intelectual estão entre as mais importantes nesta era digital. Será lançado nessa terça-feira (18), no Rio de Janeiro, o livro “Copyfight”, que estimula uma reflexão crítica destes conceitos. O trabalho terá uma versão impressa e online e conta com textos de autores brasileiros e estrangeiros.
Adriano Belisário, um dos organizadores da publicação, diz que a proposta é mostrar mais de uma visão sobre o tema: “Queremos trazer uma diversidade de perspectivas que aprofundem estes debates, que muitas vezes ficam restritos à questão do download gratuito”.
Outro organizador do livro, Bruno Tarin, reforça o discurso de Belisário. “O trabalho tenta trazer visões diferentes, e um dos pontos fortes é tentar ver a questão não pelo lado do consumidor, mas pelo lado da produção”, afirma Tarin.
Clique aqui para assistir o vídeo da matéria
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O despreparo brasileiro para lidar com os livros digitais
Por Tatiana de Mello Dias | Link
No meio de outubro, o responsável pelo site eBooksBrasil, Teotônio Simões, recebeu uma notificação da Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR). O aviso por e-mail pedia a remoção do livro A Cidade Antiga, de Fustel de Coulanges, em 24 horas.
Era para ter sido uma notificação como outras, não fosse um detalhe: Fustel de Coulanges morreu há mais de 70 anos - sua obra, portanto, está em domínio público - e o tradutor, Frederico Ozanam Pessoa de Barros, autorizou a publicação do livro no site. Na resposta à ABDR, Simões citou o artigo 138 do Código Penal (o que define “calúnia”) e avisou a entidade: atribuir falsamente um crime a alguém pode render prisão de até dois anos.
A ABDR é linha-dura em relação à divulgação de obras na internet. Ela segue a cartilha de outras entidades que cuidam de direitos autorais em outras áreas - música e cinema, por exemplo - e vive emitindo pedidos de remoção ao se deparar com conteúdo supostamente pirata na rede.
Um estudante de letras da USP sentiu de perto a política da ABDR: ele foi processado por criar o site Livros de Humanas, que divulgava obras usadas por universitários. Acadêmicos e autores - como Paulo Coelho - se manifestaram publicamente contra a entidade. O autor brasileiro mais vendido de todos os tempos chegou até a publicar em seu blog o telefone e o e-mail da entidade, incitando as pessoas a protestarem contra a ação. “É permitido trollar”, escreveu.
A indústria cultural demora a aceitar que é impossível controlar a internet. E isso nem fica restrito apenas aos blogs. No Twitter, usuários já se organizaram para criar uma biblioteca de obras - tweets com links para download de livros são agrupados por uma hashtag. Quem controla todos os usuários?
Em vez de tirar proveito do potencial de divulgação da rede, as empresas insistem em tentativas de controlar a circulação de obras. Foi assim com a música, com o cinema e, agora, cada vez mais com os livros. E-books já circulam na rede há muito tempo. Há excelentes bibliotecas virtuais que disponibilizam obras na íntegra. Mas o fim de 2012 marca a chegada de grandes empresas no mercado editorial virtual, como Amazon e Google Play, no País. O mercado vai mudar. E, como em toda mudança, há um lado que sente medo.
A Associação Nacional das Livrarias pede que os lançamentos demorem 120 dias para chegar ao digital. Mas quatro meses é tempo suficiente para os usuários escanearem e jogarem a cópia na web. Não dá para jogar contra a internet - é preciso saber lidar com ela. A Amazon sabe disso e investe no digital.
Aqui no Brasil, a diferença é que o consumidor ganha mais uma opção - o que é especialmente animador em um país com índices tão baixos de leitura. Tentar impedir blogs de divulgarem links, emitir notificações e processar estudantes é um modelo que já se mostrou ineficiente em outras indústrias. O mercado editorial terá de aprender na marra que é impossível remar contra a evolução.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Pesquisador analisa as mudanças culturais que os meios digitais geram na sociedade
Entrevista com Ronaldo Lemos
foto: Adriana Vichi
Revista e
Mestre em Direito por Harvard, nos Estados Unidos, e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), Ronaldo Lemos dirige o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (FGV), onde também é professor da área de Propriedade Intelectual. Com menos de 40 anos de idade, o colunista do jornal Folha de S.Paulo conhece amplamente temas relacionados à cultura digital.
Em entrevista concedida à Revista E, o pesquisador abordou temas como o mercado editorial e musical, passando pelo uso das tecnologias, pela esfera legal e pela relação social que estamos construindo com as novas mídias. Embora cauteloso com o futuro da rede, é um entusiasta da internet e suas possibilidades. “De modo geral, penso que a internet expandiu as formas de relação entre as pessoas”, diz.“E isso é bom, é humano.” A seguir trechos.
O mercado editorial está preparado para as mudanças provocadas pelo formato digital?
Estamos vivendo uma mudança na maneira de fazer e na ideia do que é um livro. Nesse sentido, as nossas editoras estão acostumadas, como é natural em qualquer outra indústria, a fazer aquilo que sempre fizeram: pensar o livro em um formato específico, no livro em papel, como mídia na qual se fabrica o conteúdo. Isso vai mudar com a chegada das lojas digitais, que oferecem uma pluralidade de formatos e ampliam a problematização para questões econômicas, como estabelecer qual é o valor de um livro digital, discussão que está acontecendo nos Estados Unidos e em outros países.
Como é definido o valor de um livro digital?
Quando você adquire uma biblioteca ao longo da sua vida, ela possui um valor importante, sendo possível vender o acervo. Mas imagine uma pessoa que passa a vida inteira comprando livros digitais. Quanto vale aquela biblioteca no fim da vida dela? Nada ou muito pouco.
Eu acho que a chegada do mercado de e-books no Brasil vai transformar não só o mercado editorial, mas os hábitos de leitura. A gente tem que estar preparado para conteúdos que possam ser lidos em celular, em tablets e casualmente na tela do computador, entre uma tarefa e outra. E não vejo as editoras brasileiras preparadas para esse aspecto.
Você acredita que há uma catatonia ou ninguém sabe o que faz, inclusive fora do Brasil?
A primeira coisa a pensar é o preço; no entanto, há uma divergência central. As editoras querem saber quanto vão ganhar e como vai ficar o compartilhamento das receitas. A mídia que originalmente era o livro de papel vai se modificar e impactar o modelo de negócio das editoras e de criação de conteúdos. Uma das questões envolvidas é a negociação de preços. Acho que por isso a Amazon insiste para que os preços sejam baixos, pois, segundo a sua experiência, se o preço é baixo existe a possibilidade de ampliar a venda de forma significativa e, na medida em que se aumentam esses preços, a demanda responde caindo.
Tal receio tem razão de existir?
O que está acontecendo é ao mesmo tempo uma transformação e uma oportunidade, então há várias perspectivas para entender o contexto como positivo ou negativo. De fora, eu que não sou do mercado editorial, sou autor em grande medida, vejo como uma oportunidade. Acho que no saldo final haverá mais inovação, flexibilidade, portabilidade e, eventualmente, será possível abaixar o preço do livro no Brasil.
Temos que lembrar que vivemos em um país em que a maioria dos municípios não possui livrarias, são apenas 2.400 no total. Se você vive em alguma cidade do interior do Ceará, de Goiás, de Minas Gerais, por exemplo, a sua chance de comprar um livro é pelo Correio, então temos que lembrar que, ao digitalizar tudo isso e com a inclusão digital se expandindo, abriremos novos mercados e novos públicos para a leitura de livros.
Contudo, na perspectiva de muita gente, isso pode ser visto como ameaça - para aqueles acostumados a certo modelo de negócios. É igual ao que aconteceu com a música. Muitas lojas de discos fecharam, mas isso não quer dizer que há menos pessoas ouvindo música. Há mais gente ouvindo música, como vai ter mais gente lendo com a entrada dos livros digitais.
E qual a especificidade do mercado da música?
O mercado da música é um caso de inovação atrasada. A música poderia ter inovado ao longo da década passada, mas demorou para fazer coisas que nos anos 2000 já eram óbvias. O consumidor digital está em busca de preços compatíveis com o seu nível de renda, catálogo ilimitado, achar tudo que procura em um único local e portabilidade, o que significa adquirir e acessar conteúdos em qualquer dispositivo -seja celular, tablet ou o rádio do carro.
O mercado da música levou anos para atender a esses requisitos e mesmo assim não há um serviço que atenda aos três elementos em conjunto: preço, catálogo e portabilidade. Por exemplo, a venda de música digital está crescendo a percentuais altos, coisa de 40%, 50% ao ano.
Os serviços de streaming, nos quais é possível ouvir a música sem fazer o download, estão começando a gerar receita com assinatura e publicidade. O essencial é que nesse sistema os artistas recebem e os intermediários também.
Além disso, esse mercado dá sinais de que está numa curva ascendente, entrando em uma fase de ajuste econômico que começa a atender ao anseio do consumidor e por isso volta a ter receitas. O interessante é a correlação direta com a queda da pirataria. O usuário deixa de fazer download ilegal para usar o serviço legal, desde que o catálogo seja muito bom e que o preço seja razoável.
E a adequação do mercado de livros ao contexto atual?
A mesma ponderação vale para o mercado de livros, pois a demora na adequação é ainda maior. É difícil conceber alguém lendo Guerra e Paz, de Liev Tolstói, na íntegra e na tela do celular, mas o ritmo do consumo de mídias varia durante o dia. A pessoa acorda e usa o laptop, ou o tablet, depois sai para o trabalho e permanece em frente ao PC, depois chega em casa e assiste TV, volta para o tablet e quem sabe, mais tarde, lê um livro de papel. A portabilidade é fundamental e não deve ser desprezada.
Como estabelecer a precificação nos jornais e revistas?
A questão econômica é resolvida de modos diferentes. A revista The Economist, para padrões internacionais, possui um preço de assinatura muito alto. Hoje custa mais de 100 dólares por ano, o que no modelo norte-americano é um valor altíssimo. Decidiram que o preço do digital equivaleria ao do físico, pois entendem que a receita das assinaturas é importante para o negócio e julgam que a marca da revista garante o preço.
Outras publicações têm a estratégia de baixar o preço da assinatura. Dessa forma há uma perda no arrecadado com a assinatura, mas um ganho na publicidade. Vários modelos estão sendo pensados, considerando que cada nicho de conteúdo possui uma economia própria.
E o movimento self-publishing, que tem como representante recente o best-seller Cinquenta Tons de Cinza?
O self-publishing é fascinante. Há vários escritores de self-publishing que já eram editores, participavam de comunidades na internet e tinham angariado fãs. E quando esse autor publica o próprio livro, o público já está formado.
Cito dois exemplos: o primeiro é uma garota chamada Amanda Hockin, que foi a primeira escritora self-publishing a ficar milionária, vendendo livros a 99 centavos através da Amazon. Qual é a mágica? Ela já escrevia em fóruns da internet, por prazer, sem pensar em ganhar dinheiro. Amanda conquistou muitos fãs e de repente foi contratada por uma grande editora e virou um sucesso.
A mesma coisa aconteceu com o best-seller Cinquenta Tons de Cinza. E. L. James era uma escritora de fóruns que postava os textos do gênero fan fiction [ficção criada por fãs], servindo-se de personagens famosos em histórias fictícias. No caso de James, a base foram as histórias da saga Crepúsculo. Ela mudou o nome dos personagens principais e relançou os livros com os nomes trocados.
Como podemos entender a produção de cultura digital?
A qualificação adquiriu um significado interessante no Brasil. O que cultura digital significa no Brasil não é o mesmo do que no resto do mundo; aqui se entende a tecnologia e todas as ferramentas como instrumentos de emancipação, transformando as pessoas não só em consumidores, mas em produtores de informação. O uso da palavra no país é particular e está ligado a situações de ativismo; a tecnologia é encarada como uma ferramenta de empoderamento.
Pode ser que essa visão política de cultura digital tenha origem no momento de transição pelo qual passamos; porém, no fundo tudo é cultura. Essa transição significa que a internet e a tecnologia só se espalharam há cerca de 15 anos, é algo recente com efeitos de transformação muito grandes, de mudar modelos de negócios e transformar o indivíduo.
Expandindo o assunto para o campo da superexposição voluntária ou involuntária, deve haver leis para proteger a privacidade individual?
A questão da privacidade tem várias dimensões. Uma delas é a de que estamos sendo monitorados na internet. Do ponto de vista da informação somos seres previsíveis e, uma vez que estabelecemos nossos hábitos de consumo, tudo o que fazemos e faremos dali para diante consegue ser previsto. Esse ponto é importante, porque categoriza as pessoas em nichos de consumo.
Hoje, existe uma batalha em vários países, e que passa pelo Brasil, de como a lei deve tratar essas questões. Aqui existe o processo avançado de uma lei que trata das proteções dos dados pessoais, feita pelo Ministério da Justiça. Na União Europeia existe uma lei consolidada de proteção à privacidade que é talvez o nível de proteção mais elevado do mundo. Uma curiosidade é a dimensão social que mostra que a nova geração não se incomoda com a perda da privacidade. Vivemos numa sociedade que expõe seus dados e sua vida, todo mundo virou meio que performer de si mesmo.
Hoje existem empresas que acessam o Facebook da pessoa que está tentando uma vaga de trabalho. Há um confronto entre a vida digital e o mundo analógico?
Isso que você está descrevendo já é regra. Tenho um amigo que é juiz de família que me disse que 100% das ações de divórcio envolvem menções do Facebook, que é um dos meios probatórios utilizados pelas famílias para mostrar o estado da relação, quebra de deveres patrimoniais, coisas do tipo.
O que me preocupa é a questão da vigilância. Governos, principalmente os autoritários, já estão desenvolvendo o potencial da internet como um grande aparelho de vigilância. Na China, o governo usa um mecanismo de reconhecimento facial, identifica as pessoas que estavam em determinada manifestação e dá ordem de prisão a todas.
Do ponto de vista legal, como fica a exposição de momentos íntimos sem autorização?
Nos estudos legais isso é chamado de direito de imagem. Se olharmos como o código brasileiro lida com essa questão veremos que não há resolução, porque só há categorias abstratas. Cabe a cada juiz verificar qual medida do direito de imagem foi violada ou não. E ao fazer isso considera o grau de notoriedade da pessoa que teve sua imagem divulgada na internet. Caso seja uma pessoa pública, o grau de expectativa de privacidade dela é baixo, pois se parte do princípio de que é do interesse da sociedade saber da vida pública daquela pessoa. Em resumo, quanto mais conhecido, menor o grau de privacidade.
E no caso de informações não autorizadas em biografias no Brasil?
No Brasil hoje escrever a biografia de uma pessoa tornou-se quase impossível, a não ser que o biografado corte e acrescente o que quiser, senão é possível processar o escritor e o livro pode ser recolhido, além de o autor ter que pagar uma indenização. Um exemplo recente é Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César de Araujo. Tal situação é um problema gravíssimo, considerado censura prévia, no sentido de que a Constituição brasileira garante a liberdade de expressão; não é possível dar ordem para recolher um livro.
A opinião pública pode ajudar a mudar esse cenário?
Hoje a opinião pública no Brasil importa. Um dos motivos para isso é que a nossa democracia é jovem, recente. Essa juventude democrática permite a relevância da opinião pública, mas há uma tendência de seguir um caminho similar ao dos Estados Unidos, onde a importância da opinião pública vai decrescendo e o poder do lobby, dos financiadores de campanha, vai se cristalizando cada vez mais.
O Wikileaks marcou o início do fim da fase heroica da internet?
Essa pergunta é chave; já estamos vivendo o nosso pós-maio de 1968, que foi o caso Wikileaks [organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, postagens de fontes anônimas. Em 2010, após o vazamento de documentos sobre possíveis crimes de guerra cometidos na Guerra do Afeganistão e na Guerra do Iraque pelo Exército dos Estados Unidos, sua fama cresceu].
No momento em que a Visa [multinacional de cartões de crédito] decidiu parar de financiar o Wikileaks porque discordava do conteúdo discutido, encontramos o fim da fase heroica, pois, na medida em que se barram fluxos financeiros de acordo com o conteúdo que pode ser publicado no site, temos um apaziguamento na rede. Estamos vivendo os primeiros anos do começo do fim desse momento de glória da internet, com todas as promessas que achávamos que ela poderia cumprir, agora temos que repensar esse momento com mais cautela.
A contrarreação às formas de empoderamento e possibilidade de articulação da opinião pública já está acontecendo. Exemplos são a militarização da rede, a chegada da guerra digital e os milhares de batalhas que estão acontecendo no plano do direito. Elas envolvem a neutralidade da rede, concorrência no âmbito da prestação do serviço de internet e telecomunicações, e como os direitos fundamentais serão traduzidos para o meio digital.
A comunicação por e-mail entrará em desuso, tendo em vista as outras possibilidades de interação pela internet?
E-mail é uma forma de comunicação que possui disfuncionalidades e a que menos inovou desde que foi criada. É disfuncional, pois as demandas por e-mail podem ser infinitas, então, se você responde a um e-mail para se livrar dele, acaba gerando mais e-mails, um ciclo que não tem fim. A nova geração, por sua vez, já deixa o e-mail de lado.
Para eles é mais importante se comunicar por mensagens curtas no celular e por chats, tornando o e-mail próximo de uma geração mais velha que cresceu com ele. Porém não podemos esquecer que esse modo de comunicação apresenta vantagens de organização. Muitos direcionam nele o fluxo de trabalho, podendo receber e decidir qual mensagem quer responder. As demandas do mundo são infinitas, mas a nossa capacidade de responder a elas são meramente humanas.
Como você se organiza no dia a dia em meio ao fluxo constante de informações?
Nasci em 1976, cresci boa parte da minha vida sem internet, o que para mim é valiosíssimo, inclusive para pensar todas essas vertentes. Também acho que existe o risco de alienação, isolamento, perda de foco ou foco exagerado, as ansiedades, isso é um mal social que afeta a vida contemporânea como um todo, mas acho que o mal deve ser pensado e que os benefícios e as coisas interessantes não podem ser desprezados.
Temos que considerar que as formas de se relacionar mudam e a internet abre novos canais. Claro que algumas pessoas sofrem um desequilíbrio, relacionando-se mediadas por alguma ferramenta, perdendo o contato pessoal. O importante é nunca perder o equilíbrio, inclusive o equilíbrio de desconexão, embora algumas pessoas tenham dificuldades de fazer isso hoje. De modo geral, penso que a internet expandiu as formas de relação entre as pessoas e isso é bom. É humano.
“Muitas lojas de discos fecharam, mas isso não quer dizer que há menos pessoas ouvindo música. Há mais gente ouvindo música, como vai ter mais gente lendo com a entrada dos livros digitais”
“O ritmo do consumo de mídias varia durante o dia. A pessoa acorda e usa o laptop, ou o tablet, depois sai para o trabalho e permanece em frente ao PC, depois chega em casa e assiste TV, volta para o tablet e quem sabe, mais tarde, lê um livro de papel”
“O que cultura digital significa no Brasil não é o mesmo do que no resto do mundo; aqui se entende a tecnologia e todas as ferramentas como instrumentos de emancipação, transformando as pessoas não só em consumidores, mas em produtores de informação”
“O que me preocupa é a questão da vigilância. Governos, principalmente os autoritários, já estão desenvolvendo o potencial da internet como um grande aparelho de vigilância”
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