“Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”, de Jean Baptiste Debret, em álbum editado em 1834 por Firmin Didot Frères, do Acervo da Biblioteca Nacional - Divulgação
O Globo
Em tempos de tantos projetos parados por falta de verbas ou de apreensão com o futuro, a notícia é boa. Quatro grandes instituições brasileiras assinam hoje, às 11h, na Biblioteca Nacional, um acordo de cooperação para a construção de um portal, o Brasiliana Iconográfica, que vai reunir e disponibilizar ao público um rico acervo de pinturas, gravuras e desenhos retratando paisagens, gente e costumes brasileiros. Integram o projeto a própria Biblioteca Nacional, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Instituto Itaú Cultural e o Instituto Moreira Salles (IMS), numa reunião bem-sucedida de instituições públicas e privadas.
— Possuímos, juntos, um conjunto de coleções maravilhosas, mas as pessoas têm dificuldade de ter um contato com elas. Foi isto que nos inspirou: democratizar o acesso aos nossos acervos, e, à medida que fazemos isso, também ampliar a transparência sobre eles. Assim damos oportunidade aos pesquisadores e ao público de nos oferecerem subsídios para descrever melhor o material que temos — afirma Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
ESTREIA EM 2017
A previsão é de que o portal www.brasilianaiconografica.art.br entre no ar em março de 2017, com uma oferta inicial de 3 mil obras (1.200 da Biblioteca Nacional, 800 do Itaú Cultural, 500 do IMS e 500 da Pinacoteca). Mas a expectativa é chegar a 50 mil obras, um conteúdo realmente expressivo para pesquisadores e público em geral.
Num primeiro momento, cada instituição será responsável por subir a ficha técnica e um descritivo das obras, com seu histórico e circunstâncias de aquisição, num trabalho que implica na unificação dos termos usados nos textos, o chamado “vocabulário controlado”. É isto que vai permitir o cruzamento de dados e, mais tarde, o uso de hiperlinks para outros portais, como por exemplo a Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Para Julia Kovensky, coordenadora de iconografia do Instituto Moreira Salles, apesar de as Brasilianas terem um universo parecido, elas são, na verdade, complementares, cada uma preenchendo lacunas das outras.
— Ao reunir essas coleções, vamos disponibilizar ao público conjuntos de trabalhos mais completos. É um privilégio, o portal vai permitir uma compreensão maior da obra de um artista — diz ela. — É um projeto grande, mas que não se conclui com o lançamento. Vai estar em permanente expansão. Uma vez que esteja consolidado, funcionando, a ideia é que novos parceiros se unam a ele.
— Todos entram para somar — acrescenta Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional. — O Brasiliana Iconográfica mostra que é possível ter cooperação entre instituições juridicamente diferentes. E que, se tivermos projetos culturais compatíveis, podemos fazer.
GERENCIAMENTO COM INSTITUIÇÕES PRIVADAS
A iniciativa não é inédita para Lessa. Em abril de 2015, estreou o portal Brasiliana Fotográfica (www.brasilianafotografica.bn.br), parceria da Biblioteca Nacional com o IMS, com cerca de 2.400 fotos dos dois acervos. O modelo de curadorias implementado no Brasiliana Fotográfica será repetido no site de iconografia, cujos custo e gerenciamento ficarão a cargo das duas instituições privadas: IMS e Itaú Cultural.
— Estamos presos a uma estrutura pesada do Estado, eles têm agilidade que nós não temos — explica Lessa.
Hoje, o trabalho começa com as equipes de cada instituição. O grande investimento só será feito mais para a frente, quando for preciso armazenar os dados virtualmente, pagando o aluguel de uma grande nuvem.
— O projeto é baratíssimo. O mais caro já está comprado: o acervo. O custo vai ser o milionésimo do valor que as instituições têm em seus acervos — diz o presidente da Biblioteca Nacional.
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